sexta-feira, julho 29, 2011

O Brasil não é um negócio


O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse hoje à Agência Reuters que a balança de derivados de petróleo da empresa terá déficit até 2015, em meio à crescente demanda e à limitação na capacidade de refino. Ou seja, que a empresa terá de importar derivados de petróleo para satisfazer o consumo brasileiro.
De outro lado, o que não ficou expresso, é que com nossa crescente produção de óleo bruto, teremos de exportá-lo, sem poder refina-lo aqui.
As pessoas menos informadas dizem: que absurdo, importar derivados e exportar petróleo.
E é mesmo, mas é uma situação da qual não se pode fugir a curto prazo. E que, de quebra, ainda é agravada pela crise do etanol.
Isso é resultado da herança maldita de duas eras que o Brasil atravessou. A que ficou conhecida como “década perdida”, os anos 80 – Governos Figueiredo e Sarney – e o neoliberalismo – Collor e Fernando Henrique .
Até que a Refinaria do Nordeste, a Abreu e Lima, comece a funcionar, no ano que vem, serão 32 anos sem que uma só nova refinaria tenha sido agregada ao parque de refino da Petrobras.
O motivo? Dois, basicamente. O primeiro, é que uma refinaria custa caríssimo – dependendo do tido e capacidade, entre 10 e 20 bilhões de dólares – consome não menos de quatro ou cinco anos para ser implantadas.Tanto que você não vê nenhuma multi falando em fazer refinaria no Brasil. Negativo, querem é concessão para furar poços e extrair petróleo. Beneficiá-lo é coisa para “gente fina”, país desenvolvido.
A segunda razão, claro, é que o país – na recessão ou na “roda presa”, não crescia e, assim, etanol e gás natural completavam as necessidades que surgiam, basicamente o transporte automotivo e a geração sazonal de energia.
Escrevi, ontem, sobre o assunto, um texto que explicava que a Petrobras luta para corrigir este crime cometido contra o Brasil. E luta contra o mercado, ávido por lucros rápidos, que não tem compromisso com o desenvolvimento harmônico do Brasil.
O texto, na íntegra, pode ser lido no blog Projeto Nacional, mas transcrevo aqui um trecho:
“O Brasil precisa, desesperadamente, de novas refinarias de petróleo para chegar perto – chegar perto, prestem atenção – da demanda interna.
Sob pena de se tornar um exportador de petróleo bruto e importador de petróleo refinado.
Igualzinho ao que a “lógica de mercado” nos fez viver, exportando ferro e importando aço.
A Petrobras fez das tripas coração para cumprir seu papel de empresa de mercado, sem deixar de ser empresa de país, do nosso país.
Cortou onde podia cortar. Reduziu e restringiu aos ótimos negócios suas operações no exterior.; Está sofrendo com a falta de ação no mercado de etanol e, como se não bastasse, tendo de investir num setor onde a operação foge de sua cultura empresarial.
Porque, vocês sabem, como o álcool é negócio privado, onde vale o preço de mercado, enquanto que a gasolina, para a Petrobras, tem preço “de governo”.
A Petrobras está segurando a rebordosa nos preços da gasolina nas refinarias e enfrentando toda a sanha dos que procuram e acham espaço na mídia para bater na nossa petroleira.
O que eles não dizem é que querem que ela se lixe para o Brasil, como durante dez anos fez a Vale.
É por isso que refino de petróleo é uma palavra maldita para o “mercado”.
E bendita para o Brasil.”

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O lucro da Vale não é o Agnelli, é o preço do minério

Saiu o Roger Agnelli, entrou o Murilo Ferreira e o lucro da Valefoi lá pra cima. No segundo trimestre, o lucro líquido foi de R$ 10,275 bilhões, 54,9% acima do registrado no mesmo período de 2010.
“O resultado reflete a qualidade superior de nossos ativos em um ambiente caracterizado por forte demanda global e preços elevados de minerais e metais”, afirma a mineradora, em nota.
Aí está o tão falado sucesso de Agnelli: o preço do produto que a empresa vende.
A Vale estatal era ineficiente, esbanjadora ou vendia um minério que custava 15 vezes menos?
A pergunta, agora, é: o que ficou para o país de tamanho salto no valor de nosso minério?
Grandes siderúrgicas? Empregos? Uma cadeia produtiva de fornecedores? Tecnologia? Uma rede de estaleiros montada com as encomendas de transportes? Ao menos royalties para os municípios e estados produtores?
Nada.
Nem mesmo investimentos em outras áreas, lucrativas para a empresa e estratégicas para o pais, como iremos mostrar aqui, logo.
Da Vale,  ficou apenas uma ferida funda no chão e doída no peito dos brasileiros.