quarta-feira, dezembro 30, 2009

Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto






28/12/2009
Há um ano, Israel começava um dos mais bárbaros massacres contemporâneos. Ingressou, com todo seu poder de fogo, em uma região já cercada, que não dava possibilidade de fuga à sua população. O Exército que, há décadas, mais recursos recebe da maior potência bélica da história da humanidade, os EUA, descarregava todo seu poderio sobre uma população indefesa, acusada de colocar em risco, com pífios foguetes domésticos (a tal ponto, que Israel não conseguiu descobrir nenhuma das supostas bases de lançamento, nem lugares de sua fabricação) que não tinham provocado nenhuma vitima no seu território. Israel utilizou inclusive armas proibidas, como fósforo branco, sobre a população palestina, encerrada na área mais densamente povoada do mundo.

Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.

Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.

Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.

O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.

Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.

Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.

A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.



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Por trás da muralha do Egito, em Gaza


por Dina Ezzat, no Al-Ahram Weekly
Tradução: Caia Fittipaldi

Às vésperas do primeiro aniversário da operação “Chumbo Derretido”, ataque de Israel contra Gaza, o Egito volta a alimentar a revolta na fronteira leste com a Faixa de Gaza sob duro boicote por Israel. Cairo tem negado acesso a comboios nacionais e internacionais, de organizações não-governamentais que querem chegar à Faixa de Gaza pela fronteira egípcia.
O ministério do Exterior divulgou duas decisões consecutivas, na 2ª e 3ª feiras, em que se rejeitam pedidos formulados por organizações humanitárias para entrar em Gaza. Segundo o ministério, os pedidos foram rejeitados porque as organizações não satisfizeram as exigências legais vigentes para a concessão do visto de entrada.
Fontes ligadas à segurança, que concordaram em falar a Al-Ahram Weekly sob condição de serem mantidas anônimas, atribuem a negativa ao fato de o governo egípcio não querer qualquer contato ou associação com algumas das referidas organizações nacionais e internacionais, que teriam ligações com a Fraternidade Muçulmana e com o Hamás. “Estamos dispostos a aceitar o pedido de entrada de organizações humanitárias, mas não nos interessa facilitar qualquer tentativa da Fraternidade Muçulmana ou do Hamás de usarem a situação em Gaza para tumultuar a situação nas fronteiras egípcias” – disse uma daquelas fontes.
Nem o Hamás nem a Fraternidade Muçulmana negam participação nas tentativas de fazer chegar socorro humanitário à população economicamente sufocada da Faixa de Gaza; mas negam absolutamente qualquer intenção de manipular a ajuda humanitária para finalidades políticas.
Funcionários egípcios têm informado que a situação já é tensa nas fronteiras. Fonte que também pediu que não fosse identificada disse que a segurança egípcia já tem provas de que ativistas do Hamás estão passando pelos túneis, nas duas direções; esses túneis são construções ilegais que ligam Gaza e territórios egípcios na península do Sinai. Segundo a mesma fonte, “são elementos que testam o terreno para uma possível invasão em massa de palestinos, para protestar contra a construção, pelo Egito, de um muro de segurança na fronteira com Gaza”.
O muro, dizem as autoridades egípcias, é parte de sistema de segurança mais amplo que inclui a instalação, em toda a região de fronteira, de sensores detectores de túneis fornecidos pelos EUA. As mesmas autoridades dizem que o plano dos EUA visa a dois grandes objetivos: primeiro, premiar a ação dos egípcios no combate ao contrabando de armas que, segundo os israelenses, estariam sendo recebidas pelo Hamás. Segundo, impedir qualquer contrabando de armas para o Egito e impedir que o Egito seja invadido por multidões de palestinos, como ocorreu em janeiro de 2008.
O ministro do Exterior, Ahmed Abul-Gheit, e Suleiman Awad, porta-voz do presidente, destacaram em declarações oficiais “o direito de tomar todas as medidas necessárias para proteger as fronteiras, considerando os altos interesses da segurança nacional do Egito”. “A soberania dos territórios egípcios é sagrada, e o Egito não aceitará nenhum risco que a ameace”, disse Awad.
Funcionários egípcios têm demonstrado indiferença aos protestos dos militantes humanitários, contra a construção da “muralha egípcia” – que tornará ainda mais desesperadora a situação dos habitantes de Gaza. “Gostemos ou não dos túneis ilegais entre Gaza e Egito, são a única via pela qual obter água, comida e remédios, mesmo que possam ser também usados para contrabandear armas”, disse um operador de um grupo internacional de ajuda humanitária.
Informação reunida pelo Weekly indica que “o muro de segurança” (para os egípcios) ou “a muralha egípcia” (para os palestinos) consiste de um enorme bloco de aço reforçado, e está sendo construída por partes. A ideia da construção em porções aparentemente desconexas visa a reduzir tensões e protestos – que já começaram, entre os palestinos de Gaza. Na 2ª-feira, milhares de palestinos reuniram para protestar contra a construção da muralha que, dizem, tornará ainda mais desesperadoras as condições de sobrevivência em Gaza, que já vive sob o duro bloqueio imposto pelos israelenses.
Ano passado, já houve manifestações contra o Egito, depois de o país ter mantido as fronteiras fechadas durante os 22 dias da “Operação Chumbo Derretido” contra Gaza.
Hoje, fontes do Hamas disseram que as medidas tomadas pelo Egito são inadmissíveis, sobretudo ao final de um ano duríssimo, tornado ainda mais difícil pelas medidas que o Egito tem adotado na operação da passagem de Rafah. Além disso, as mesmas fontes do Hamás sugerem que, ao tomar as mais recentes medidas que tomou, o Egito dá sinais de tentar desconectar-se do compromisso com a questão palestina e, em geral, com a causa de todos os árabes.
“Nada disso”, respondeu um diplomata egípcio, que também pediu para não ser identificado. Para ele, as medidas de segurança que o Egito está tomando na fronteira com Gaza não visam a criar qualquer atrito com o Hamás, mas, apenas, a evitar que Israel envolva também o Egito no processo de transferir responsabilidades pela Faixa de Gaza. “Israel quer livrar-se de Gaza, jogando-a sobre o Egito. O que estamos dizendo é que a potência ocupante é Israel. Como tal, toda a responsabilidade por Gaza cabe a Israel, não ao Egito.”
Segundo a mesma fonte, a visita de Omar Suleiman, chefe geral da Segurança egípcia a Israel, no domingo, deveu-se exclusivamente a essa questão. Suleiman, disse esse funcionário, tenta também que Israel comprometa-se a levantar, pelo menos parcialmente, o cerco de Gaza, caso chegue a bom termo a negociação de troca de prisioneiros. “Mas essa coisa toma um rumo num dia e, dia seguinte, tudo muda completamente.”
Simultaneamente, muitos oficiais egípcios dão sinais de preocupação e insistem em que o Egito não cogita de abandonar a causa dos palestinos. Estão em andamento consultas entre Cairo e várias capitais árabes e ocidentais, para que se criem condições que levem ao reinício das negociações entre palestinos e israelenses. “A menos que se reiniciem as negociações, não vemos possibilidade de que Israel sequer cogite de melhorar a situação de Gaza” – disse um diplomata.
Fontes egípcias em Washington dizem que há planos para uma visita do ministro do Exterior Abul-Gheit à cidade em meados de janeiro. A visita, dizem, serviria para examinar saídas possíveis para o atual impasse político causado pelo fracasso dos EUA, que não conseguiram impedir que prossiga a construção de colônias israelenses ilegais exclusivas para judeus, nos territórios palestinos ocupados.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, continua a insistir, dizem os diplomatas egípcios, na exigência de que, para reiniciar negociações com Israel,  as construções ilegais sejam completamente congeladas.
“Há algumas alternativas, que estão sendo examinadas. Um cenário possível é Israel transferir a Abbas a autoridade para governar outros territórios palestinos, em troca de um arranjo mais rigoroso nas questões de segurança” – disse fonte que Weekly entrevistou em Washington. A mesma fonte informou que essa possibilidade está sendo analisada pela Autoridade Palestina e por várias capitais árabes que esperam que, assim, se supere o impasse criado quando Israel não suspendeu as construções ilegais.
Os desenvolvimentos – ou, mais apropriadamente, a ausência de qualquer desenvolvimento – no front palestino são o item principal da agenda do presidente Hosni Mubarak que, essa semana, visitará os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e o Kuwait.

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