sexta-feira, agosto 07, 2009

Jornalista não representa ninguém

“Recortes de jornal”

Quem não assistiu à defesa do senador José Sarney no plenário do Senado e à deliberação do presidente do Conselho de Ética da Casa, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), ontem, terá maior dificuldade para entender o que relatarei a seguir.

Mesmo entre aqueles que assistiram, talvez alguns não tenham conseguido assimilar completamente o importante passo que foi dado por aquela Casa no sentido de impedir a manutenção de um poder da imprensa que a sociedade não pode aceitar que seja delegado a um grupo social tão restrito.

Durante os últimos anos, um esquema político poderoso se assenhorou de uma prerrogativa que, nas democracias, só pode ser concedida ao eleitorado, ou seja, a prerrogativa de eleger ou derrubar políticos e de, através de pressão diária e sufocante, alterar, de forma antidemocrática, o controle de instâncias do Poder de Estado, seja no Legislativo ou no Executivo.

Só para ficarmos no Poder Legislativo, nos últimos anos a imprensa conseguiu derrubar presidentes das duas casas do Congresso até com relativa facilidade. Mas tal demonstração de poder midiático abrangeu até o Poder Judiciário (vide o caso da “faca no pescoço” do STF para aceitar a denúncia do MPF contra os envolvidos no “mensalão”).

Ontem, o senador carioca Paulo Duque, presidente do Conselho de Ética do Senado, leu – e também fez com que lessem por ele – as decisões que tomou de arquivar quatro das onze representações de partidos e de senadores contra Sarney. E foi um show.

Em todas as representações que analisou, o autor repetiu e repetiu à exaustão que elas se basearam meramente em “recortes de jornal” ou em “notícias de jornal” sem maiores fundamentações probatórias ou simples indicação de fatos detalhados, bem como em outros procedimentos ineptos que buscariam produzir factóides que, por sua vez, visariam favorecer a grupos políticos nas eleições do ano que vem.  

Aliado à defesa veemente que Sarney fez de si mesmo na tribuna do Senado, esse fato mostra a tomada de decisão de boa parte da classe política de não conceder mais à imprensa um poder dessa magnitude, um poder que, nas palavras do senador Duque, se fosse concedido a ela obrigaria a instituição a se embrenhar num tortuoso e permanente processo de caça às bruxas.

A imprensa brasileira sempre demonizou “os políticos” por essa exclusiva razão, para poder, depois – ou na hora “certa” –, ungir alguns e amaldiçoar a outros.

É por isso, também, que o país se manteve atrasado por tanto tempo, pois a classe política acabou se tornando refém de meios de comunicação que, a partir de determinado porte, passam a ter poder para fazer prevalecer interesses de exíguos grupos sociais e econômicos ao usurparem o papel de intérpretes “da opinião pública”.

Essa situação não deixa de ser lamentável. Até pelo desprestígio da imprensa que estamos vendo ocorrer. A credibilidade dela, em boa medida, é necessária. Sobretudo se um dia a sociedade tiver que enfrentar (toc, toc, toc) um governo autoritário, por exemplo.  

Em suma: é danoso para a democracia a banalização da denúncia e a conseqüente confusão que a sociedade acaba fazendo sobre os políticos ao achar que são todos iguais, pois fica-se nessas acusações de parte a parte e a imprensa, excedendo-se na defesa de uns e nas críticas histéricas a outros, mostra até ao mais ingênuo que ela mesma tem interesses naquela disputa.

As demonstrações explícitas de partidarismo da imprensa já se revelam notadas apesar da dissimulação inútil e malfeita dos que as praticam. Em uma Globo, por exemplo, o mais ingênuo pode notar os apresentadores de telejornais ou de programas de análise política virarem como que advogados da mesma oposição que elegeu Sarney presidente do Senado há alguns meses e que só agora foi descobrir que ele não presta.

Porém, de alguma forma, pode ser que esse processo de fulanização da culpa pelos tais atos secretos na pessoa de José Sarney acabe se voltando contra quem o desencadeou.

Até agora, a imprensa mantinha o poder de derrubar presidentes das Casas do Congresso, como fez com Severino Cavalcanti ou com Renan Calheiros. É esse poder que o Senado está retirando dela ao desobedecê-la não degolando Sarney.

Nos próximos anos, portanto, veremos quão freqüente se tornará o uso da expressão “recortes de jornal”. Para o bem e, também, para o mal.

Análise política (Eduardo Guimarães)

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