quarta-feira, janeiro 30, 2008

CENSURA NUNCA MAIS








Não deixe de assistir a entrevista do Governador Roberto Requião

concedida em 28/01/2008 à TV Record news com participação da

repórter Christina Lemos.



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domingo, janeiro 27, 2008

Eu adoro jornal inglês: "Eleitor estúpido! Renuncie, se não quiser ser cassado e perder seus direitos políticos!"



"Eleitor estúpido,
Você diz que quer que os políticos o representem, mas quando o representamos, façamos o que fizermos, você nos acusa de deslizes, gaffes e até de roubo, sem provas, baseado só em futrica de jornal. Você nos espinafra de cabo a rabo, e diz que aceitamos propina. Ao mesmo tempo, vc não quer pagar impostos e recusa-se a financiar os partidos e as campanhas políticas. Você diz que os políticos não trabalham e não pensam no interesse público, mas você nunca fecha jornais nem reclama da imprensa que, no mínimo, recebe tanta propina quanto os piores políticos. E, no mais mínimo erro que os políticos cometemos, vc já nos demite, embora nós -- muito diferentes de você -- estejamos, pelo menos, tentando cumprir o nosso dever democrático. E você? O que tem feito para melhorar o país, além de ler jornais que só mentem?
O pior de tudo é que você, eleitor estúpido, dono do destino dos políticos, não admite ser chamado de estúpido. Eleitor, basta! Você é ignorante, estúpido, autista, hipócrita, adestrado como urso de circo para acreditar em jornais e jornalistas. Visivelmente, você não está preparado para a democracia. Basta, eleitor estúpido! Renuncie, se não quiser que seu mandato seja cassado. Desista, para não perder seus direitos políticos por vinte anos!"


(David Cox, "The general public is not fit for purpose", The First Post, UK, em http://www.thefirstpost.co.uk/index.php?storyID=13534. E eu, em noite de insônia braba.)


enviado por Caia Fittipaldi


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sábado, janeiro 26, 2008

O que mais falta acontecer no DES-jornalismo que desgraça o Brasil-2008???




Uma estupidez brutal


DES-jornalismo de Condoleezza-Bush & camelo?! E... REPETIDO?! Até quando?!
Acooooooooooooorda, Ombudsman!

Não bastasse a Folha de S.Paulo impingir aos seus leitores-consumidores, todos os dias, o mais insuportável DES-jornalismo -- 'jornalismo' partidarizado, alugado a candidatos, arrendado, vendido --, hoje a Folha de S.Paulo publica DUAS VEZES a mesma DES-notícia... com DES-opiniões de Condoleeza Rice!

Condoleezza Rice é a mais totalmente patética DES-secretária de Estado que jamais houve nos EUA. Apóia Uribe, apoia Israel, apoia FHC-Bornhausen, e apoiará o diabo em pessoa, se for preciso, pra tentar derrubar candidatos eleitos em eleições democráticas, no Brasil, na Venezuela, na Faixa de Gaza, onde quer que os eleitos NÃO SEJAM os candidatos preferidos de Condi-Bush e FHC-Bornhausen & coisa-e-tal.

O Estadão e a Folha de S.Paulo apóiam Condi, que apóia Bush, que apóia Uribe que apóia a CIA e tudo isto aí é farinha do mesmo saco com a tucanaria-uspeano-Bornhausenzista, como sempre foi. Isto, também, todo mundo já sabe. Hoje, todo este pessoal aí espinafra o Hamás e obra, sem parar, pra matar de fome 1,5 milhão de palestinos que Israel-EUA-Condi mantêm sob sítio e ocupação ILEGAL (além de desumana!), na Faixa de Gaza. Isto, também, todo mundo já sabe.

POIS HOJE O Estado de S.Paulo DES-noticia um camelo... onde 700.000 pessoas lutam pela vida! É inacreditável! É um escândalo! É um escárnio! (A foto pode ser vista em http://www.estado.com.br/editorias /2008/01/26/)

É PRECISO ser MUITO aplicado DES-noticiador e fazer um muito salafrário DES-jornalismo de DES-democratização, para, num dia em que 700 mil seres humanos lutam para conseguir comprar ÁGUA para não morrer de sede na faixa de Gaza sitiada por Israel (que é o mesmo que dizer que estão sitiados por Bush-Condoleezza)... publicar a foto de UM CAMELO, na primeira página, como faz hoje O Estado de S.Paulo. É de matar de vergonha! OK. OK. Todo mundo já sabe que não há nem jornal nem jornalismo nem jornalistas DEMOCRÁTICOS no Brasil.

CONTUDO, publicar O MESMO BESTEIROL -- EXATAMENTE A MESMA DES-notícia! A MESMA! --, duas vezes, no mesmo dia, no mesmo jornal, como fez hoje a Folha de S.Paulo... sinceramente... já beira o total escárnio, né-não?!

BOM. E sem falar que, hoje, o Clóvis Rossi elogia... o Vinicius Torres Freire! [risos, risos]. Parece mentira, mas é verdade. Clóvis Rossi, hoje, escreveu: "É óbvio, como ensinou ontem o cada vez mais imperdível Vinicius Torres Freire, que... (o resto não interessa. A DES-coluna de CR, hoje, está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2601200803.htm . Ninguém precisa ler. Já li. É nada.]

O que mais falta acontecer, neste DES-jornalismo TOTAL, dos DES-jornalões de São Paulo?!

O que mais falta acontecer no DES-jornalismo que desgraça o Brasil-2008, depois de O Estado de S.Paulo ter inventado, pra engambelar seus leitores, um camelo voador na primeira página... no dia em que caiu o muro da vergonha TOTAL, que desgraça 1,5 milhão de palestinos?!

DEPOIS... o "hidrófobo" sou eu, né Clóvis Rossi?! Eu! Eu, o consumidor ADIMPLENTE que pagou pra receber serviços jornalísticos e só recebe isto: além daquele camelo ridículo, só DES-notícia repetida e DES-colunista que elogia OUTRO DES-colunista, empregados, ambos, do mesmo patrão DES-jornalista e dono de DES-jornalão alugado à tucanaria uspeana Bornhausenzista de sempre (e o camelo da UDN, ali, no Estadão, de língua de fora, na primeira página, que não me deixa mentir). Só rindo!

DES-notícia 1, na p. 9, na Folha de S.Paulo, hoje:
RICE ELOGIA GOVERNO URIBE E PROMETE TLC Após encontrar ex-paramilitares colombianos, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, elogiou o programa de desarmamento dos grupos feito pelo governo Álvaro Uribe e disse que a intenção dos EUA é honrar "todos os compromissos com a Colômbia", inclusive o Tratado de Livre Comércio, ainda pendente. Rice reuniu-se com Uribe.

(Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2601200809.htm)

DES-notícia 2, igualzinha, repetida, na p. 14, na Folha de S.Paulo, também hoje:
A SECRETÁRIA DE ESTADO NORTE-AMERICANA, CONDOLEEZZA RICE reuniu-se ontem a portas fechadas, em Medellín, com representantes de paramilitares colombianos desmobilizados. De lá, seguiu para encontro com o presidente colombiano Álvaro Uribe.

"Impressionada" com o processo de desarmamento, segundo um dos porta-vozes dos ex-paramilitares, Rice não poupou elogios ao governo colombiano, o mais próximo aliado de Washington na região. "Apreciamos muito o que foi feito pelo presidente Uribe", disse ela, que afirmou ainda a disposição americana em honrar "todos os seus compromissos com a Colômbia" - inclusive o TLC, Tratado de Livre Comércio, pendente de aprovação no Congresso de maioria democrata.

(Em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2601200814.htm)

Caia Fittipaldi

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Gaza às escuras
Bloqueio israelita à passagem de combustível acentua crise humanitária no território

Milhares de palestinianos da Faixa de Gaza continuam sem electricidade, depois de Israel ter imposto, a semana passada, um bloqueio que impede a passagem de combustível, alimentos, medicamentos, pessoas e ajuda humanitária. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, já pediu o apoio da comunidade internacional.


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Uri Avnery: Bloqueio de Gaza é "pior que crime"

O Vermelho reproduz abaixo um instigante artigo do ativista israelense pela paz, Uri Avnery. Ele revela a estupidez que se esconde por trás das "ações estratégicas" do governo de Israel, como o bloqueio da Faixa de Gaza, que levou ao desespero e à fome quase 1,5 milhão de palestinos.

PARECEU a queda do muro de Berlim. Não ‘pareceu’, apenas. Por um momento, o cruzamento em Rafah foi o Portão de Brandenburg.

É impossível não se emocionar quando a multidão de oprimidos e famintos rompe um muro que os impede de avançar, olhos brilhantes, todos se abraçando –, emocionar-se muito, mesmo que se saiba que foi nosso governo, o governo de Israel, que construiu aquele muro.

A Faixa de Ghazaa é a maior prisão da Terra. Abrir uma passagem no muro, em Rafah, foi um ato de libertação. Provou-se que políticas desumanas são sempre políticas de estupidez: nenhum poder conseguirá jamais conter uma multidão que já tenha cruzado a fronteira do desespero absoluto.

Esta é a lição de Ghazaa, janeiro, 2008.

CABERIA AQUI a frase famosa do estadista francês, do tempo de Napoleão I, Boulay de la Meurthe[1], com pequena adaptação: “É pior que crime de guerra: é uma estupidez!”

Há vários meses, os dois Ehuds – Barak e Olmert – impuseram um bloqueio à Faixa de Ghazaa e vangloriaram-se muito. Depois, foram apertando o nó mortal cada vez mais, até que já praticamente nada entrava na Faixa. Semana passada tornaram absoluto o bloqueio – nem comida, nem remédios. As coisas chegaram ao paroxismo quando suspenderam também o fornecimento de combustíveis. Grandes áreas de Ghazaa ficaram sem eletricidade – para as incubadoras para bebês prematuros, para máquinas de diálise, para bombas de água e para evacuar esgotos. Centenas de milhares de pessoas ficaram sem calefação, sob frio intenso, sem poder cozinhar, sem o que comer.

Vezes sem conta a Rede Aljazeera levou aquelas imagens para milhões de lares em todo o mundo árabe. Muitas outras redes de televisão exibiram as mesmas imagens. De Casablanca a Aman, explodiram protestos de massa nas ruas que assustaram os regimes árabes autoritários. Hosny Mubarak telefonou em pânico para Ehud Barak. Na mesma noite, Barak foi obrigado a suspender, pelo menos temporariamente, o bloqueio que, desde a manhã, impedia a entrega de combustível na Faixa. Exceto por isto, o bloqueio continuou total.

Difícil imaginar ato político mais estúpido.

A RAZÃO apresentada para matar de fome e frio 1,5 milhão de seres humanos confinados num território de 365 km2 é o continuado bombardeio de foguetes Qassam sobre cidade de Sderot e arredores.

É razão cuidadosamente pensada para unir o que há de mais primitivo e o que há de mais pobre na opinião pública em Israel. Faz calar as críticas que viriam da ONU e de governos em todo o mundo que, de outro modo, protestariam contra uma punição coletivamente aplicada a populações civis que, sem dúvida alguma, configura crime de guerra nos termos da lei internacional.

Apresenta-se ao mundo um quadro simplificado: o regime de terror do Hamás lança mísseis contra inocentes civis israelenses. Nenhum governo pode tolerar que seus cidadãos sejam bombardeados dentro de suas fronteiras. O exército de Israel não tem resposta militar para enfrentar os foguetes Qassam. Portanto, não lhe resta outra saída além de pressionar a população de Ghazaa, na esperança de que se levante contra o Hamás e faça parar o bombardeio de Qassams.

No dia em que Ghazaa ficou totalmente sem eletricidade, os correspondentes militares israelenses festejaram: só dois foguetes Qassams foram disparados de dentro da Faixa. Então o bloqueio funciona! Ehud Barak é um gênio!

No dia seguinte, com 17 Qassams lançados contra Israel, a alegria sumiu. Políticos e generais israelenses estavam (literalmente) frenéticos, fora de si: um político propôs “ações mais loucas que as deles”; outro propôs "bombardear a área urbana de Ghazaa indiscriminadamente, a cada Qassam disparado", um famoso professor (conhecido por ser ligeiramente perturbado) propôs que se adotasse "o mal absoluto".

O modo de atuar do governo israelense é hoje uma repetição do que já fizeram na Segunda Guerra do Líbano (espera-se para os próximos dias a publicação do relatório sobre aqueles dias). Daquela vez: o Hizbullah capturou dois soldados israelenses, em território de Israel. Hoje: o Hamás bombardeia casas e cidades em território de Israel. Daquela vez: precipitadamente, o governo decidiu entrar em guerra. Hoje: precipitadamente, o governo decidiu impor bloqueio total. Daquela vez: o governo ordenou bombardeio massivo contra civis, para pressionar o Hizbullah. Hoje: o governo ordena o massacre, pela fome e pelo frio, de população civil, para pressionar o Hamás.

Os resultados são os mesmos, nos dois casos. Daquela vez: a população não se levantou contra o Hizbullah; aconteceu exatamente o contrário: pessoas de todos os credos e grupos religiosos reuniram-se numa mesma organização xiita. Hassan Nasrallah tornou-se herói de todo o mundo árabe. E hoje: a população cada vez mais unida num Hamás cada vez mais forte, acusa Máhmoude Abbás de colaborar com o inimigo. Uma mãe que não tenha comida para dar aos filhos não maldiz Ismail Haniyeh. Ela maldiz Olmert, Abbas e Mubarak.

ENTÃO, o que fazer? Afinal de contas, não se pode tolerar o sofrimento dos habitantes de Sderot, que vivem sob fogo constante.

O que todos ocultam da opinião pública é que é possível fazer parar o bombardeio de Qassams amanhã de manhã.

Há vários meses, o Hamás propôs um cessar-fogo. Esta semana, eles repetiram a mesma proposta.

Para o Hamás, cessar-fogo significa: os palestinos cessam o fogo de Qassams e morteiros; e o exército de Israel cessa as incursões em Ghazaa, os assassinatos por armas ‘inteligentes’ em alvos ‘selecionados’ e o bloqueio.

Por que o governo israelense não aceita imediatamente esta proposta?

É simples: para aceitar esta proposta, o governo de Israel tem de falar com o Hamás, direta ou indiretamente. Isto, precisamente, é o que o governo de Israel recusa-se a fazer.

Por quê? Outra vez, é muito simples: porque Sderot é apenas um pretexto – como também os dois soldados capturados foram apenas um pretexto – para coisa muito diferente. O objetivo geral de toda a ‘operação’ é derrubar o regime do Hamás em Ghazaa e evitar que o Hamás tome toda a Cisjordânia.

Em palavras simples e claras: o governo de Israel está sacrificando toda a população de Sderot, em nome de uma idéia de antemão condenada ao fracasso. O governo de Israel está muito mais interessado em pressionar o Hamás – que é, hoje, a cabeça de ponte de toda a resistência palestina – do que em proteger os habitantes de Sderot. E toda a mídia colabora para difundir a farsa.

JÁ SE DISSE que é muito perigoso escrever sátiras em Israel – porque muitas vezes a sátira torna-se realidade. Alguns leitores talvez lembrem de um artigo satírico que escrevi há alguns meses. Lá, descrevi a situação em Ghazaa como uma experiência científica para descobrir até que ponto conseguiríamos chegar, em matéria de matar de fome populações civis e fazer da vida humana um inferno... antes de termos de levantar as mãos e nos render, derrotados.

Esta semana, a sátira virou política oficial do Estado de Israel. Comentaristas respeitados declararam explicitamente que Ehud Barak e os chefes militares estão trabalhando na linha de “tentativa e erro” e mudam diariamente seus métodos conforme os resultados. Param de fornecer combustível a Ghazaa, vêem o que acontece e desfazem tudo quando a reação internacional é negativa demais. Suspendem o fornecimento de remédios, vêem o que acontece, etc. etc. O objetivo científico justifica os meios.

O homem encarregado deste experimento é o Ministro da Defesa, Ehud Barak, homem de muitas idéias e poucos escrúpulos, homem cujo modo de raciocinar é basicamente pré-humano. Ehud Barak é hoje, provavelmente, o ser mais perigoso que há em Israel, mais perigoso que Ehud Olmert e Binyamin Netanyahu, perigoso até para a sobrevivência de Israel no longo prazo.

O homem encarregado de executar o experimento é o Comandante em Chefe do Exército de Israel. Esta semana, ouvimos os discursos de dois de seus predecessores no cargo, os generais Moshe Ya'alon e Shaul Mofaz, num fórum que teve as mais infladas pretensões intelectuais. Descobriu-se ali que ambos têm idéias que os colocam em algum ponto entre a extrema Direita e a ultra-Direita. São, os dois, homens de cabeça assustadoramente primitiva. Desnecessário desperdiçar sequer uma palavra sobre as qualidades morais e intelectuais do sucessor imediato de ambos, Dan Halutz. Se estas são as vozes dos três últimos Comandantes do Exército de Israel, o que dizer do atual, que não pode falar abertamente como os outros? Que maçã cairia muito longe da mesma árvore?

Até há três dias, os generais ainda podiam defender a opinião de que o experimento estaria dando certo. A miséria atingira o clímax na Faixa de Ghazaa. Centenas de milhares de seres humanos enfrentavam a fome total. O chefe da Agência de Apoio Humanitário da ONU para a Palestina (UNRWA) denunciou o risco de catástrofe humana absoluta. Só os mais ricos ainda tinham combustível para seus carros, para aquecer as residências e para cozinhar. O mundo não parou de girar e ouviu-se apenas um murmúrio planetário. Os líderes dos Estados árabes enunciaram frases ocas e não moveram um dedo.

Barak, que tem talentos matemáticos, podia até calcular o dia em que a população finalmente entraria em colapso.

E ENTÃO, de repente, aconteceu algo que nenhum deles previu, embora fosse o evento mais facilmente previsível do planeta.

Quando alguém põe 1,5 milhão de seres humanos numa panela de pressão e não pára de pôr fogo no palheiro, é certo que tudo explodirá. Foi o que aconteceu na fronteira entre Ghazaa e o Egito.

Primeiro, foi uma explosão pequena. Uma multidão juntou-se no posto de fronteira e os policiais egípcios abriram fogo. Houve dúzias de feridos. Foi um sinal de alerta.

Dia seguinte veio o grande assalto. Combatentes palestinos furaram o muro em vários pontos. Centenas de milhares de palestinos entraram em território egípcio e respiraram fundo. Estava quebrado o bloqueio.

Já antes disto, a posição de Mubarak era insustentável. Centenas de milhões de árabes, um bilhão de muçulmanos viram que o exército de Israel fechava apenas três pontos da fronteira de Ghazaa: pelo norte, pelo leste e pelo mar. O quarto ponto do bloqueio estava entregue ao exército egípcio.

O presidente do Egito, que se apresenta como líder de todo o mundo árabe foi exposto como colaborador numa operação desumana liderada por um inimigo, e apenas para obter os favores (e o dinheiro) dos norte-americanos. Seus inimigos internos, a Irmandade Muçulmana, exploraram esta situação e o denunciaram, publicamente, aos olhos de seu próprio povo.

Dificilmente Mubarak teria podido manter-se na posição em que estava. Mas a multidão palestina livrou-o da tarefa de decidir. Decidiram por ele. Os palestinos irromperam no Egito como um tsunami. Agora, Mubarak que decida quando sucumbirá completamente a Israel e reimporá o bloqueio contra seus irmãos árabes.

E quanto ao experimento de Barak? O que acontecerá agora? Barak tem poucas opções:

(a) Reocupar Ghazaa. O exército não gosta desta idéia. Para os comandantes militares, a reocupação exporá milhares de soldados israelenses a uma guerra de guerrilhas cruel, diferente de todas as intifadas conhecidas.

(b) Apertar novamente o bloqueio e pressionar Mubarak o mais possível, inclusive com o lobby israelense no Congresso dos EUA, para privá-lo dos bilhões que recebe anualmente em troca de serviços prestados.

(c) Fazer do castigo um prêmio, e entregar a Faixa de Ghazaa a Mubarak, como se este fosse o objetivo secreto de Barak, desde o começo. Passaria a ser tarefa do Egito garantir a segurança de Israel, evitar a chuva de Qassams e expor seus próprios soldados à guerra de guerrilhas na Palestina – depois de o Egito ter imaginado que se havia livrado definitivamente desta área de conflito, e depois de toda a infra-estrutura da Palestina ter sido destruída pela ocupação israelense. É provável que Mubarak responda: “É muita gentileza sua, mas, não, não, muito obrigado.”

O bloqueio da Faixa de Ghazaa é crime de guerra. E é pior que isto: é uma estupidez brutal.

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* Worse than a Crime, 25/1/2008, em Gush Shalom [“Grupo da Paz”], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1199602046/. Copyleft. Tradução de Caia Fittipaldi. Reprodução autorizada pelo autor e pela tradutora.
[1] A frase famosa é “C'est pire qu'un crime, c'est une faute” (É pior que um crime: é um erro).

Obs.: No artigo acima, foram mantidas as grafias que a tradutora usou para nomes árabes como Gaza (Ghazaa), Rafá (Rafah), Cassam (Qassam), Hamas (Hamás), Hezbolá (Hizbullah) e outros.
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=31593


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quarta-feira, janeiro 23, 2008

SILÊNCIO CRIMINOSO




Corriere della Sera - 30 de Novembro de 2007
http://www.corriere.it/politica/07_novembre_30/osama_berlusconi_cossiga_27f4ccee-9f55-11dc-8807-0003ba99c53b.shtml

O ex-Presidente Italiano, o homem que revelou a existência da Operação Gládio, Francesco Cossiga, veio a público falar sobre os atentados do 11 de Setembro, afirmando, num dos mais respeitados jornais italianos, que os ataques foram executados pela CIA e pela Mossad e que esse facto era do conhecimento geral entre os serviços de informações a nível global.










Via Revisionismo em Linha by Paul Joseph Watson:
http://revisionismoemlinha.blogspot.com/2007/12/ex-presidente-italiano-defende-que-11.html

O ex-Presidente Italiano, o homem que revelou a existência da Operação Gládio, Francesco Cossiga, veio a público falar sobre os atentados do 11 de Setembro, afirmando, num dos mais respeitados jornais italianos, que os ataques foram executados pela CIA e pela Mossad e que esse facto era do conhecimento geral entre os serviços de informações a nível global.

Cossiga foi eleito Presidente do Senado Italiano em Julho de 1983 antes de obter uma maioria decisiva nas eleições de 1985 tornando-se Presidente de Itália nesse ano. Francesco Cossiga ganhou o respeito dos partidos da oposição com a reputação de um político honesto e conduziu o país durante sete anos até Abril de 1992.A tendência de Cossiga para ser honesto preocupou a elite governante italiana e foi forçado a demitir-se após ter revelado a existência, e a sua participação na criação, da Operação Gládio – uma rede de operações secretas sob os auspícios da NATO que executou atentados bombistas por toda a Europa nos anos 60, 70 e 80.

A especialidade da Gládio era executar o que se chama "false flag operations," ataques terroristas que eram imputados à oposição doméstica e geopolítica.

As revelações de Cossiga contribuíram para uma investigação do parlamento italiano em 2000 sobre a Gládio, durante a qual foram reveladas provas de que os ataques foram administrados pelo aparelho de inteligência americano.

Em Março de 2001, o agente da Gládio Vincenzo Vinciguerra afirmou, em testemunho sob juramento, "Vocês têm de atacar civis, pessoas, mulheres, crianças, pessoas inocentes, gente anónima arredada da política. A razão é muito simples: forçar... o povo a virar-se para o estado a pedir mais segurança."

http://citadino.blogspot.com:80/2007/12/o-ex-presidente-italiano-francesco.html

enviado por: MVM<==>News

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Junte as 3 notícias e veja como é impressionante o silêncio sobre esse assunto.


A declaração não é de um qualquer, é do ex-presidente da Itália:

os ataques foram executados pela CIA e pela Mossad e que esse facto era do conhecimento geral entre os serviços de informações a nível global.

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Estudo revela que guerra do Iraque se baseou em declarações falsas

Um estudo de duas organizações jornalísticas sem fins lucrativos afirma que o presidente George W. Bush e altas autoridades do governo emitiram centenas de declarações falsas sobre a ameaça do Iraque à segurança dos EUA nos dois anos que se seguiram aos ataques terroristas de 11/9. O estudo concluiu que os relatórios "faziam parte de uma campanha organizada que direcionou efetivamente a opinião pública e, no processo, empurrou o país para uma guerra com decididas falsas pretensões".

O resultado da análise das organizações foi publicado no site do Centro da Integridade Pública, que trabalhou em parceria com o Fundo para a Independência do Jornalismo. O porta-voz da Casa Branca Scott Stanzel afirmou que não comentará o estudo porque não o viu. O trabalho das organizações reuniu 935 declarações falsas --em pronunciamentos, relatórios, entrevistas e outros meios-- divulgadas durante dois anos. Estas declarações foram compiladas em um banco de dados a partir de 11 de setembro de 2001. A análise mostrou que Bush e seus secretários e membros do governo mentiram deliberadamente sobre as suspeitas de que o Iraque produzia ou detinha armas de destruição em massa.

"Agora é incontestável que o Iraque não possui nenhuma arma de destruição em massa", afirmou Charles Lewis e Mark Reading-Smith, do Fundo para a Independência do Jornalismo. "Em outras palavras, o governo Bush levou a nação à guerra baseado em informações equivocadas propagadas metodicamente e que culminaram em uma operação militar contra o Iraque em março de 2003. O estudo revela o nome de altos membros do governo envolvidos nas mentiras. Entre eles figuram o vice-presidente Dick Cheney, Condoleezza Rice (secretária de Estado), Donald Rumsfeld (ex-secretário de Defesa), Colin Powell (ex-secretário de Estado), Paul Wolfowitx (ex-vice-secretário de Defesa), e outros.

"O efeito cumulativo das mentiras foi massiva", dizem os autores na apresentação do estudo. Segundo ele, a mídia reconheceu que durante os meses anteriores à guerra adotou uma atitude condescendente e sem críticas em relação ao governo. Desde a invasão do país, em 2003, a onda de violência na qual o Iraque está imerso causou a morte de 151 mil pessoas, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). Pesquisa da entidade mostra que no primeiro ano da invasão, 128 iraquianos morreram diariamente de maneira violenta; no segundo ano, o número caiu para 115, ao tempo que no terceiro voltou a subir, para 126, com mais da metade das mortes ocorridas em Bagdá.

Associated Press

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Urânio empobrecido põe em risco milhares de vidas em Bassorá

Governos central e local nada fazem
27 de Agosto de 2007
Aswat al-Iraq (Voices of Iraq)
Os níveis de radiação em certas zonas da província de Bassorá, no sul do Iraque, indicam que estão em perigo iminente milhares de habitantes locais que assim estariam muito mais atreitos a contrair cancros e malformações à nascença, segundo Khajak Vartanian, técnico de radiação ambiental na província. “Nos últimos 4 anos, houve em Bassorá um aumento sem precedentes desses casos, e também de deficiências renais, doenças da pele, alergias, infertilidades e abortos recorrentes – aumento esse atribuído à poluição de urânio empobrecido”. As autoridades pro-EUA simplesmente não ouvem as propostas de medidas para prevenir o desastre.

http://www.tribunaliraque.info/pagina/artigos/noticias.html?n=20&c=20&o=0&d=0&col=2

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Veja:

Lições da Escuridão, 1992, de Werner Herzog.

http://br.youtube.com/watch?v=fJU5nhup__c&eurl=http://losolvidados.apostos.com/2007/08/

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terça-feira, janeiro 22, 2008

Em um país em que freqüentemente se busca desmoralizar iniciativas governamentais, disseminando desconfiança na palavra oficial...



Febre amarela

A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz a disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade

ADIB D. JATENE, 78, cardiologista, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP e diretor-geral do Hospital do Coração. Foi ministro da Saúde (governos Collor e FHC), secretário da Saúde do Estado de São Paulo (governo Maluf) e diretor do InCor.

No período em que estive à frente do Ministério da Saúde, tomei conhecimento da importância da relação entre dengue e febre amarela silvestre e o eventual risco da reurbanização desta última.

Desde 1942, não ocorreu nenhum caso de febre amarela urbana. Entretanto, persiste, e é impossível eliminar, sua forma silvestre.

É por essa razão que o Ministério da Saúde vem vacinando sistematicamente toda a população das áreas de risco, onde há ocorrência de casos humanos, adquiridos sempre nas áreas de mata. Já vacinamos, nos últimos 12 anos, mais de 60 milhões de pessoas.

Nas matas, existe alta concentração de mosquito transmissor e animais, principalmente macacos, portadores do vírus. Daí o risco de pessoas não vacinadas incursionarem em regiões com alta concentração de mosquito, onde alguns estão contaminados e, por isso, são capazes de transmitir a doença. Assinale-se que, nos últimos 12 anos, tivemos 349 casos confirmados, com 161 óbitos, todos adquiridos por pessoas não vacinadas que freqüentaram áreas de mata.

A incidência desses casos variou de ano a ano. Tivemos anos com apenas três casos, enquanto em outros, como 1999, 2000 e 2003, ocorreram, respectivamente, 76, 85 e 64 casos, com mortes de 29, 40 e 23 pacientes.

Por que com essas três centenas e meia de casos, em doze anos, não tivemos transmissão urbana, já que, nas cidades, existe o Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela?

As razões são três: em primeiro lugar, o número de doentes com febre amarela silvestre no mesmo espaço urbano e ao mesmo tempo é muito pequeno, o que reduz significativamente a chance de infectar o mosquito Aedes aegypti; em segundo lugar, é preciso alta concentração de mosquito, ao redor de 40% de infestação, o que corresponde a 40 habitações em cada 100 com a presença do mosquito, segundo a OMS, para que seja possível a transmissão da febre amarela; e em terceiro lugar, porque temos altos índices de cobertura vacinal na área endêmica, portanto, sem susceptíveis em número suficiente para sustentar uma transmissão.

A concentração do Aedes aegypti nas cidades brasileiras onde ocorre a dengue não ultrapassa, em média, 5 domicílios infestados em cada 100, suficiente para transmitir a dengue devido ao número alto de doentes, mas absolutamente insuficiente para transmitir a febre amarela urbana.
Os que retornam às cidades afetados pela febre amarela silvestre são hospitalizados e têm desenlace, seja para cura, seja para óbito, em prazo relativamente curto.

Não há, portanto, nenhuma razão para vacinar as pessoas que não residem em área endêmica nem pretendem adentrar a mata dessas áreas.

Vi na televisão pessoas que sempre residiram na cidade de São Paulo e que não pretendem viajar desesperadas, em filas para se vacinarem, alegando que tinham direito. Certamente não tinham necessidade e se expõem aos efeitos adversos de uma vacina com vírus vivo.

Nos últimos quatro anos, foram registrados pelo sistema de informação de efeitos adversos pós-vacinação 478 casos (muito mais que os 349 casos de febre amarela registrados em 12 anos), desde reações simples até exantemas generalizados, febre alta e, em dois casos, meningite.

Em relação à vacina contra a febre amarela, a Fiocruz é, praticamente, a única produtora em todo o mundo.

Há só um outro laboratório privado no exterior, produzindo cerca de 5 milhões de doses por ano, enquanto a produção da Fiocruz é o dobro.

A corrida pela vacina por pessoas que não precisam dela reduz sua disponibilidade para os que efetivamente têm necessidade.

Diante da imunização da quase totalidade da população de áreas de risco, o que vem sendo feita há décadas, as recomendações do Ministério da Saúde são suficientes, ratificadas por especialistas e pela própria OMS, para garantir que o país não corre risco de reintrodução de febre amarela urbana, o que seria catastrófico.

Em um país em que freqüentemente se busca desmoralizar iniciativas governamentais, disseminando desconfiança na palavra oficial, que se preserve a seriedade com que são tratados assuntos como a febre amarela.

Nunca é demais ressaltar a luta por recursos para o setor, seriamente afetada pela decisão -inegavelmente democrática, mas, sem dúvida, perversa- que permitiu retirar R$ 40 bilhões destinados a atender a população de baixa renda e entregá-los a empresas e parcelas da população mais bem aquinhoadas, causando sério risco ao esquema financeiro para o setor.


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domingo, janeiro 20, 2008

É ASSIM...


A "INCAPACIDADE" DO OPERÁRIO
E A "INTELIGÊNCIA" DO PROFESSOR:

"Vendendo ar, Lula ganhou mais do que Fernando Henrique vendendo a alma."


Do deputado federal WALTER PINHEIRO (PT-BA), sobre o leilão da banda 3G de celulares, no qual foram arrecadados R$ 5 bilhões, enquanto a privatização da Embratel rendeu R$ 2,65 bilhões.

enviado por: Raul Longo

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sábado, janeiro 19, 2008

Alguns desconhecidos motivos do


ORGULHO BRANCO:

Abaixo, o escritor e historiador Eduardo Galeano relaciona alguns motivos pouco divulgados de nosso orgulho.
Tantos são eles, em todo o histórico das conquistas de nossa civilização, que seria impossível à memória uma listagem completa.
Para colaborar, insiro mais uma informação em forma de pergunta:

Em que ano da graça do Senhor a temporada de caça ao aborígine foi definitivamente encerrada pelos colonizadores cristãos da Austrália?

Enquanto tentam descobrir a resposta, leiam a longa lista do Galeano e ao final encontrarão em vermelho a data em que se encerrou a esportiva atividade de tiro ao aborígine.
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O paradoxo andante

Eduardo Galeano

Cada dia, ao ler os diários, assisto a uma aula de história. Os diários ensinam-me pelo que dizem e pelo que calam. A história é um paradoxo andante. A contradição move-lhe as pernas. Talvez por isso os seus silêncios dizem mais que suas palavras e muitas vezes as suas palavras revelam, mentindo, a verdade.

Dentro em breve será publicado um livro meu chamado Espejos. É algo assim como uma história universal, e desculpem o atrevimento. 'Posso resistir a tudo, menos à tentação', dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo do ponto de vista dos que não saíram na foto. Pode-se dizer que não se trata de fatos muito conhecidos. Aqui resumo alguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para África, não para Paris.

Algum tempo depois, quando seus filhos já se haviam lançado pelos caminhos do mundo, foi inventada a escrita. No Iraque, não no Texas.

Também a álgebra foi inventada no Iraque. Foi fundada por Mohamed al Jwarizmi , há mil e duzentos anos, e as palavras algoritmo e algarismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam. No British Museum, por exemplo, as esculturas do Partenon chamam-se 'mármores de Elgin', mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.

As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou .

Os hindus souberam antes de todos que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos .

Em 1493, o Vaticano presenteou a América à Espanha e obsequiou a África negra a Portugal, 'para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica' . Naquele tempo a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha e a África negra cem vezes mais que Portugal. Tal como havia mandado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.

Tenochtitlán, o centro do império azteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade pedra por pedra e, com os escombros, tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas . Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a agua, agora correm os automóveis.

O monumento mais alto da Argentina foi erguido em homenagem ao general Roca, que no século XIX exterminou os índios da Patagônia.

A avenida mais longa do Uruguai tem o nome do general Rivera, que no século XIX exterminou os últimos índios charruas.

John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company , que comprava e vendia escravos .

No momento em que nascia o século XVIII, o primeiro dos bourbons, Felipe V, estreou o seu trono assinando um contrato com o seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca ficava com 25 por cento dos lucros.

Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois dos Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram- se na névoa da história oficial. Ninguém se recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris . A amnésia recompensou os seus atos. Carter foi a única personalidade eminente da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula estabelecendo que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.

'O nascimento de uma nação' , a primeira super-produção de Hollywood, foi estreado em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a de pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvação à Ku Klux Klan.
Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos . As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados 'ofícios vis', que até então implicavam a perda da fidalguia.

Até o ano de 1986 foi legal o castigo das crianças, nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes .

Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

A militante revolucionária Olympia de Gouges propõe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã . A guilhotina cortou-lhe a cabeça.

Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos contra, um a favor.

A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.

O general Ulisses Grant , vencedor da guerra do Norte industrial contra o Sul escravocrata, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu: –Dentro de duzentos anos, quando tivermos obtido do protecionismo tudo o que ele nos pode proporcionar, também nós adotaremos a liberdade de comércio. Assim, pois, em 2075, o país mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.

'Botinzito' foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no assim porque era parte do botim extorquido à China no fim das longas guerras do ópio . Vitória, a rainha narcotraficante, havia imposto o ópio a tiros de canhão. A China foi convertida num país de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.

Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. Ao cabo de uma guerra de cinco anos, este país, o único das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou a sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, vindo de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização ao Brasil, Argentina e Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos, pelo trabalho que haviam tido em assassiná-lo.

O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que,em 1804, conquistou a sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar à França uma fortuna, durante um século e meio, para espiar o pecado da sua liberdade .

As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu o direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo.

Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambroce Bierce, confirmou: – A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães desenvolveram- no. Depois disso Hermann Göring aplicou na Alemanha o modelo que o seu papa havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os professores de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. As cobaias eram todas negras.

Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O ComitêOlímpico anulou a partida.

A Hitler não lhe faltaram amigos. A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi. A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão. A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e essa foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados. (...)

1952
(a resposta aquela nossa pergunta inicial, e que nos provoca outra: Quando outras etnias e países mais pobres deixarão de ter preconceitos contra a superioridade de nossa civilização?)


>>> enviado por Raul Longo


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sexta-feira, janeiro 18, 2008

LEIA AGORA



Os torneiros mecânicos brasileiros têm se revelado à altura das tarefas encomendadas, os letrados pedantes, não. Nestes incluídos os velhos e novos acadêmicos repetitivos e bolorentos.


O Brasil e o grande salto à sua frente
Wanderley Guilherme dos Santos

18/01/2008

Os economistas prevêem um futuro de "grande moderação" no progresso material do país. É uma aposta, mas há outras. Ao que tudo indica, o importante salto à frente do país continuará atabalhoado como até agora. Iniciado com a desastrada e comprometedora gestão de Fernando Collor de Melo, seguida pelo tecnicismo insensível dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, teve modificadas as prioridades de classe com a eleição e reeleição do presidente Luiz Inácio. A gigantesca incorporação dos segmentos C e D da população ao mercado de consumo, por via do controle da inflação e das políticas sociais agressivas do atual governo, vai em breve revelar seu papel econômico de amortecedor dos estímulos externos negativos, rompendo com a rotina de os países subdesenvolvidos crescerem quando crescem os desenvolvidos e entrarem em crise juntamente com estes. O aspecto ideológico do fenômeno da globalização tende a ficar mais exposto. Em tudo, a mão invisível da democracia.
O Brasil é o único país continental que emerge para o desenvolvimento econômico em condições de normalidade democrática. Não conta com o unipartidarismo e o recurso de ilimitada coação como a China, com a corrupção econômica e política como iniciativa de Estado como a Rússia, nem com o disciplinado conformismo de uma sociedade de extremada estratificação social como a Índia. Ao contrário. O cenário político é ultrapovoado por partidos e grupos de interesse de toda espécie e a simples idéia de um corte nas verbas das políticas distributivas dos parlamentares é denunciada como ameaça de tirania. Desde o impedimento do ex-presidente Fernando Collor e o escândalo dos Anões do Orçamento, no início dos anos 1990, têm endurecido os controles sobre o uso dos recursos públicos, em todas as instâncias de governo, com número recorde de cassações de mandato e processos de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, e até governadores, senadores e ministros. Há em andamento um caudaloso processo de "mãos limpas", sem exibicionismos publicitários ou diferenciação institucional, ofuscado, entretanto, pela visibilidade extravagante dos casos em que os supostos culpados conseguem escapar por entre as persianas dos calhamaços jurídicos. São esses casos, além dos conhecidos preconceitos, que sustentam os relatórios de agências internacionais, nem todas de boa-fé, em jogo de cartas marcadas. Muitas águas ainda rolarão, por exemplo, antes que a Freedom House seja obrigada a reconhecer que a democracia chilena caminha a passos de cágado em relação à brasileira. Pior para os que confiam em tais relatórios, bem como para os incapazes de perceber a extraordinária fluidez do sistema social brasileiro, em que a inexistência de barreiras institucionais expõe qualquer discriminação, assim que descoberta, à execração pública. Descontadas a taxa de hipocrisia e as violações ocasionais, o conjunto de valores aceitos pela sociedade brasileira repudia a cristalização de "intocáveis", seja pela cor, pelo gênero, pela preferência sexual ou pela origem econômica. O visível desconforto com que os ricos convivem com pobres em lugares públicos só existe justamente porque não há como evitar a convivência. Os cegos para a promiscuidade social brasileira são vítimas de um preconceito de segunda ordem: o pré-conceito contra os preconceitos. Extensa participação sob múltiplas formas, permanente vigilância quanto a procedimentos governamentais e generosa licença social são acidentes da conjuntura nacional ausentes dos países que são cartas na manga dos conservadores (quem diria?): China, Rússia e Índia. Nem tudo são flores, porém.
O produto democrático brasileiro não é de boa qualidade. Os Legislativos pós-Constituinte têm estado modestos em grandes figuras parlamentares, úteis para disfarçar a mediocridade rapace da maioria. A hegemonia governamental petista, surpreendentemente, deu meia razão à crítica oposicionista de que o partido não teria quadros, não os técnicos, que a oposição insinuava, mas operadores, hábeis parlamentares e negociadores - o que parecia marca do partido. Entregues as lideranças do governo a aliados ao PT, está o Executivo submetido a um estilo de administração política que esgotou a paciência do país. Talvez esteja próxima a hora de mandar o PMDB às favas e de trancar as portas do Estado brasileiro à desfaçatez da política predatória. Uma das condições indispensáveis para melhorar a qualidade do produto democrático brasileiro.

Nem tudo são flores, porém. O produto democrático brasileiro não é de boa qualidade

A oposição caiu cativa de um grupo suicida. Se pudessem, ateavam fogo às vestes e, com tal radicalismo, alimentam o temor do Executivo, engessando-o em uma parceria de efeitos negativos sobre o salto à frente. O Democratas não tem nada a perder, exceto a máscara, mas o PSDB aprofundou sua dependência das quizílias bandeirantes: antes estava subordinado ao núcleo paulista em luta contra o PT paulista; agora, perfilou-se em favor de um subnúcleo paulista, adversário de outro subnúcleo paulista. Uma oposição menos provinciana e menos contaminada pelo delírio dos "demos" (no sentido ateniense da expressão, está claro) é outra condição para o aperfeiçoamento da democracia brasileira.
Felizmente, em nenhum lugar do mundo a imprensa só retrata o denominado mundo objetivo. Fosse verdade e seria um tédio, cada país tendo um só jornal para leitura, pois não haveria nada diferente a informar, nem uma segunda opinião para interpretar o acontecido. É nos países ditatoriais que se leva a sério a tese de que a imprensa apenas fotografa a realidade. Por isso, têm dois jornais, por assim dizer, um de manhã, outro à tarde, conforme os anúncios meteorológicos.
O grande salto à frente nacional conta com a hostilidade da mídia e a incompreensão da quase totalidade da elite intelectual. A mídia ruim expulsa a mídia boa e a qualidade da imprensa brasileira, como jornalismo informativo e interpretativo, decaiu consideravelmente, se comparada com a qualidade da imprensa antes do golpe de 1964. A lembrança vem ao caso porque possivelmente foram os 21 anos ditatoriais a principal causa da deterioração tanto do jornalismo quanto da representação parlamentar. Paga-se o preço, em cultura e inteligência, não apenas em pobreza, pelo descaso seletivo e arbítrio generalizado comuns às ditaduras. Repórteres que mal entendem alguma coisa a respeito do que estão, a mando, reportando; entrevistadores cujo grau de desinformação provoca o embaraço de quem está sendo entrevistado; comentaristas possuídos por crença fundamentalista nos humores do próprio fígado, transtornados pelo quebra-cabeça da vida pública e amputados do salutar hábito da leitura. O progresso gráfico e, no caso das televisões, o apuro da carpintaria não foram acompanhados de similar investimento na mão-de-obra. Os torneiros mecânicos brasileiros têm se revelado à altura das tarefas encomendadas, os letrados pedantes, não. Nestes incluídos os velhos e novos acadêmicos repetitivos e bolorentos.
Finalmente, o Judiciário é a casa forte do conservadorismo político. Não são, os ministros do Supremo, pessoas vulneráveis aos apelos do partidarismo, mas estão expostos à politização como qualquer mortal. Em cada parecer luzem os valores que defendem, os preconceitos que os movem e os clichês que conformam a percepção que têm da vida pública. É conservador o sistema de valores predominantes no Judiciário, atrasado, aquém da acuidade necessária ao entendimento das grandes linhas da história em curso. Ao contrário da imprensa, entretanto, pela integridade de seus membros, teriam boa estampa no Brasil pré-64.
A democracia brasileira pode melhorar em alguns aspectos, no curto prazo, e contribuir produtivamente para o grande salto à frente. Em outros, entretanto, deverá esperar por épocas mais felizes, quando o Senhor Tempo houver cumprido a tarefa de limpar o palco de tantos larápios e canastrões.

Wanderley Guilherme dos Santos, membro da Academia Brasileira de Ciências, escreve quinzenalmente neste espaço

Email: leex@candidomendes.edu.br

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

OVO FRITO A LA REQUIÃO


"É uma receita que eu dedico ao Ministério Público Federal e ao desembargador Edgar Lipmann Júnior"

GRANDE REQUIÃO (2): Censura obrada pelo DES-judicário combate-se com PROPAGANDA POLÍTICA DE DEMOCRATIZAÇÃO e RESPOSTAS-NA-PONTA-DA-LÍNGUA

"O governador Roberto Requião dedicou uma receita de ovo frito ao desembargador federal Edgar Lippmann Júnior e à procuradora do Ministério Público Federal Antônia Lélia Sanchezeu para criticar a censura prévia imposta à Paraná Educativa.
Requião repetiu expediente adotado à época da ditadura militar pelo jornal 'O Estado de S. Paulo', que publicava receitas de bolos e trechos dos 'Lusíadas' para preencher os espaços deixados pelas reportagens cortadas pelos censores.
"Fritar ovo é uma técnica, não é qualquer pessoa que faz um ovo frito de qualidade. Em primeiro lugar, coloca-se de preferência azeite de oliva em uma frigideira. Aqueça-se o azeite até o ponto em que, colocando-se nele um palito de fósforo, ele se incendeie. Então, o azeite está no ponto. Quebra-se o ovo, um ou dois, numa xícara, para que não correr o risco de espirrar muita gordura no momento de colocá-los na frigideira. Assim, você faz um ovo excepcional, com a clara crocante e a gema mole. É uma receita que eu dedico ao Ministério Público Federal e ao desembargador Edgar Lipmann Júnior" , disse o governador, em sua única intervenção transmitida pela TV Paraná Educativa.
(da Agência Estadual de Notícias do governo do Paraná, AEN, na internet em
>>>
Caia Fittipaldi
_____________ VEJA TAMBÉM NO BLOG DO MELLO:
Requião responde ao juiz que o censurou e faz convite para debate ao vivo sobre liberdade de imprensa (o vídeo está no blog)
Parte do programa de ontem do governador Requião, que foi censurado pelo juiz Lippmann e não pôde ir ao ar pela TV Educativa do Paraná.
O governador comenta a decisão do juiz, diz que não foi informado dela oficialmente, dá uma receita de ovo frito e faz um convite ao juiz:
Juiz Lippmann, vem aqui conversar comigo. Por que só na Globo? Por que um juiz que não cita da sua sentença, do seu despacho, um governador de estado, faz uma comunicação através de uma entrevista na Rede Globo de Televisão? Que tal um exame ético deste comportamento?

terça-feira, janeiro 15, 2008

Governo Serra faz propaganda do PSDB com dinheiro público




O jornalista Renato Rovai publicou em seu blog a denúncia que reproduzimos abaixo. Nela, ele questiona o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) sobre o fato da imagem de um tucano praticamente idêntica ao símbolo do PSDB estar presente numa faixa paga com dinheiro do contribuinte. A faixa está estendida numa das rodovias mais movimentadas do estado de São Paulo.

Fonte: http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/blog/

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segunda-feira, janeiro 14, 2008

PIG QUER PARAR O BRASIL

















PIG INVENTA APAGÃO E FEBRE AMARELA
Paulo Henrique Amorim
Máximas e Mínimas 862

. Foi preciso o Ministro da Saúde entrar em cadeia nacional de televisão no horário nobre do domingo ...
. E o Presidente da República usar o espaço do “Café com o Presidente” ...
... para enfrentar (e mesmo assim não conter) a fúria golpista do PIG.
. Dessa vez, o PIG INVENTOU duas crises.
. A epidemia da febre amarela.
. E o apagão energético.
. O PIG cria crises, como se sabe (clique aqui para ler o que disse a professora Marilena Chauí sobre a invenção do “caosaéreo” e clique aqui para entender o que foi o “caosaéreo”). (*)
. Agora, o PIG se dedica a alarmar a população, criar filas intermináveis na porta dos postos de saúde, espantar os turistas e espalhar uma epidemia que não há.
LEIA MAIS EM:
>>>











O PSDEMB E O PIG NÃO PODEM CONTINUAR FALANDO SOZINHOS PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA.
O LATIFÚNDIO DA MÍDIA NO BRASIL TEM QUE ACABAR.
A DEMOCRACIA BRASILEIRA NÃO AVANÇA SEM A QUEBRA DESSE MONOPÓLIO.

FNDC mobiliza-se em defesa da TV Brasil
09/01/2008
Redação
FNDC

A TV pública brasileira é indispensável ao país. Com base nesse entendimento, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) está se mobilizando para a criação de uma frente parlamentar pró-TV pública e a realização de ato público em Brasília.
O FNDC defende a TV pública brasileira e por isso apóia a TV Brasil, recentemente inaugurada. Para difundir na sociedade a importância da iniciativa pública nesse sentido, conforme explica o jornalista Celso Schröder, Coordenador-geral da entidade, já estão sendo feitos contatos com as bancadas progressistas do Senado e da Câmara Federal, em articulação com movimentos sociais e entidades da sociedade civil, para que contribuam na organização de uma grande manifestação em defesa da TV pública. “Estamos propondo para breve a realização de um ato público em
Brasília, antes das votações da MP [leia aqui a MP que cria a TV Brasil].
Um dos principais méritos da TV pública, no entendimento de Schröder, é a sua vocação para enfrentar a concentração e a hegemonização da TV comercial no país, chamada pelo jornalista de “hipertrofia comercial”, estabelecida a partir de um modelo que nunca teve contraponto nem qualquer tipo de regulamentação e de regulação efetivas. “A consolidação de um novo tipo de televisão é fundamental, porque permite que o público tenha acesso a novas linguagens e conteúdos”, destaca Schröder.
Radiodifusores inviabilizaram a TV pública
O FNDC pretende mobilizar uma frente progressista no Congresso Nacional contrapondo-se aos radiodifusores comerciais e aos seus representantes históricos no parlamento. Eles se manifestam invariavelmente contra o conceito de TV Pública, argumentando que ela é desnecessária porque não teria audiência. O Fórum demonstrará que tal argumento nasceu de um círculo vicioso. “As emissoras públicas tem pouca audiência porque foram criadas para não tê-la, foram colocadas num gueto pelos próprios radiodifusores, que inviabilizaram o seu acesso aos recursos necessários”, lembra Schröder.
Desse modo, a TV pública brasileira foi imaginada para não concorrer com a radiodifusão comercial. “Porque as emissoras comerciais vendem audiência, é assim que elas faturam, essa é sua forma de remuneração. Por isso, para estes radiodifusores, a televisão pública não pode ter audiência. Esse é o pensamento histórico de uma elite brasileira que trabalha para inviabilizar o sucesso das iniciativas públicas na radiodifusão”, acusa o Coordenador-geral do Fórum.
O FNDC considera que a TV pública proposta pelo governo federal terá um caráter renovador, beneficiando inclusive a radiodifusão comercial. Esta poderá acompanhar experimentações de linguagens que não pode fazer, dada a sua condição de mercado. “Há uma necessidade urgente de desverticalizar, descomprimir e permitir que surjam novos formatos” pondera o Coordenador.
Ampliar a convergência e mudar a audiência
A nova TV pública também poderá radicalizar as possibilidades da digitalização - algo que a TV comercial não se propôs a fazer, para não pôr em risco o seu modelo de negócios. Embora tal hipótese não tenha sido contemplada no projeto, poderá ser concretizada a partir de emendas propostas à MP. Trata-se, na prática, de imprimir a convergência tecnológica e disseminar nacionalmente seus benefícios.
Por outro lado, conforme observa Schröder, no Brasil predomina uma visão distorcida de audiência. “Não é possível, em uma democracia, imaginar que as audiências tenham as dimensões brasileiras, chegando aos 80, 70 pontos”. Ele lembra que nos Estados Unidos, por exemplo, isso é proibido. Aqui, essa característica integra um modelo de sustentação ultrapassado, onde os recursos circulando no sistema concentram-se em poucas televisões. “Precisamos remodelar a forma de financiamento de tal maneira que as audiências não precisem ter os índices atuais. As emissoras devem aceitar, assim como em qualquer lugar do mundo, que dois, três pontos de audiência é algo significativo, pois ela deve ser compartilhada com toda a rede de emissoras do país”, sustenta.
Entretanto, tal como está estruturado o mercado nacional para a Globo, por exemplo - que já atingiu 90 pontos de audiência em algumas novelas - , obter 60, 40, ou 20 pontos de audiência, é considerado muito pouco. Diferentemente, semelhantes índices são considerados altos na maioria dos países.
A TV pública, para o FNDC, não pode abrir mão da audiência, disputando-a com a radiodifusão comercial e contribuindo para desconcentrá-la. Não deve, entretanto, ser pautada exclusivamente pela referida audiência. Para isso, necessita apoiar-se em um modelo de sustentação diferenciado do comercial. “O debate da MP permitirá que essas questões sejam abordadas, mas para o FNDC é inquestionável que o País precisa da TV pública e nós vamos defendê-la com todas as nossas forças”, conclui o Coordenador.
Imprensa FNDC
(51) 3328-1922 r.217
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domingo, janeiro 13, 2008



Chávez e a imprensa refém

O irrefreável desejo de ridicularizar a operação internacional, montada pelo presidente venezuelano, para obter a libertação de reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) marcou o viés político presente em editoriais e notícias de quase todos os grandes jornais brasileiros.

Gilson Caroni Filho

O “mico" é um dos jogos infantis mais conhecidos. Recortado o baralho e distribuídas as cartas, vence quem completar seus pares e não ficar com o simpático macaquinho, o único solteiro do jogo. É uma brincadeira simples e agradável que, respeitadas as especificidades, pode ser aplicada à análise da cobertura jornalística em determinadas circunstâncias. Em alguns casos, como nas recentes negociações entre Chávez e a guerrilha colombiana, é legítimo indagar: quem ficou com o mico?

O irrefreável desejo de ridicularizar a operação internacional, montada pelo presidente venezuelano, para obter a libertação de reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) marcou o viés político presente em editoriais e notícias de quase todos os grandes jornais brasileiros. Podemos falar em torcida pelo fracasso, sem incorrer em exagero. Basta passar os olhos sobre o que escreveram conhecidos articulistas e donos de colunas.

Quando, no último dia de 2007, Hugo Chávez leu, na rede de televisão estatal venezuelana, um comunicado da guerrilha alegando que a intensa atividade do exército colombiano na região impediu que a operação se efetivasse, as oficinas de consenso festejaram mais uma " profecia que se auto-realizava".

Em ritmo frenético, muito se discorreu sobre "a farsa montada às vésperas do Natal para enganar a opinião pública mundial”. Os "narcoterroristas", enfim, admitiam ter mentido sobre o refém Emmanuel, filho de Clara Rojas, uma das 750 pessoas mantidas em cativeiro na Amazônia Colombiana. Com esse reconhecimento duas coisas ficavam patentes: a justeza da intransigência de Uribe e o " fato de Chávez não ter envergadura política, moral e psicológica para tomar para si o papel de negociador". Melhor, impossível, senhores editores. O mico estava com o líder bolivariano.

Estamos diante de algo que vai além de preferências pessoais. A produção jornalística só pode ser compreendida como lugar e objeto de articulações hegemônicas, espaço de representações simbólicas. A motivação da imprensa deitava raízes na desconstrução de lideranças latino-americanas e os significados de seus êxitos e fracassos. Havia dois reféns: Chávez e Uribe. O sucesso de um deles significaria o cativeiro político do outro. E cremos ser ocioso dizer por quem dobram os sinos da velha mídia.

A libertação de Consuelo Gonzáles de Perdomo e Clara Rojas provocou um terremoto no campo jornalístico. Não foi apenas a imagem de Álvaro Uribe que saiu enfraquecida no cenário internacional, mas toda uma estrutura narrativa. O êxito da segunda tentativa de libertação remete a questões que ultrapassam o fato em si.

Como destaca o professor Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP e Presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, “estamos falando de imagem com relação à América Latina, talvez. Em linhas gerais, eu diria que Uribe dá sinais de fraqueza. E, portanto, pode ser que isso apresse uma coisa positiva, que é uma aproximação do Uribe - e portanto da Colômbia - com uma aliança sul-americana, o que seria altamente desejável. Esse é um aspecto regional que tem peso. Por outro lado, você pode ver que os Estados Unidos estão muito quietos nessa história, não sabem bem como se posicionar, porque se ficar o bicho come, se correr o bicho pega" Com quem está o mico?

Sentencioso, o editorial da Folha de S.Paulo (12/01) insiste na tecla batida de forma orquestrada: "A libertação de Clara Rojas e Consuelo González tornara-se imperiosa para as Farc depois que se descobriu a farsa do menino Emmanuel - o filho de Rojas que a guerrilha colombiana prometera libertar, mas que não estava no cativeiro. Era a única maneira de amenizar um pouco a desmoralização dos seqüestradores flagrados na mentira, que respingou no patrocinador político da operação, o presidente Hugo Chávez". Melancólico, se espera mais de um editor. Que, ao menos, sofisme com mais requinte.

O desmentido cabal está na matéria de capa do diário argentino Página 12. Nela, Consuelo Gonzáles relata com precisão:

"No dia 21 de dezembro começamos a caminhar até o lugar onde iriam nos libertar, caminhamos quase 20 dias. Neste período, tivemos que correr várias vezes porque os militares estavam muito próximos, relatou. González inclusive denunciou que no dia em que Alvaro Uribe deu por suspensa a entrega, as Forças Armadas colombianas lançaram o pior ataque à zona em que se encontravam.

"No dia 31 soubemos que iria ocorrer uma mobilização muito grande e no momento em que estávamos para sair, houve um bombardeio muito forte e nós tivemos que nos deslocar rapidamente para outra área".

Em outras palavras, a ex-refém confirma o que disseram Chávez e o comunicado das Farc. É fácil saber quem ficou com o mico. Com uma imprensa que, para cumprir o papel de porta-voz das oligarquias, ignora os próprios pressupostos que lhe confere sentido.


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sexta-feira, janeiro 11, 2008

JORNAL NACIONAL INVENTA DE NOVO







fonte: http://blogdomello.blogspot.com/

Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2008

Jornal Nacional joga Chávez contra guerrilheiros das FARC

Ontem, em reportagem do Jornal Naciona l, o repórter Vinícius Dônola disse o seguinte:
Ainda na floresta, as duas conversaram por telefone com Chávez. Consuelo González agradeceu por voltar a viver. Mas fez um apelo, em nome das centenas de reféns que ainda estão na floresta, para que Chávez não baixe a guarda com os guerrilheiros . Clara Rojas disse que a libertação as fez renascer.

De onde Dônola tirou isso? Reparem no vídeo acima, com a íntegra das conversas de Clara e Consuelo com Chávez ao telefone, que ela pede que Chávez não baixe a guarda, mas em momento algum diz que é com os guerrilheiros.

Aliás, por que ela falaria isso, se os guerrilheiros elegeram o presidente venezuelano como seu principal negociador? O recado – é claro – era para outros, para os que querem afastar Chávez das negociações: os presidentes colombiano, Álvaro Uribe, e americano, George Bush.
Além de desinformar, o repórter desviou o foco da conversa das duas, que era o agradecimento comovido ao presidente venezuelano, que se pode ver na íntegra das gravações reproduzidas aqui.

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A GLOBO PENSA QUE VOCÊ É BURRO

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quinta-feira, janeiro 10, 2008

O BRASIL CANSOU DA GLOBO




AUDIÊNCIA DA GLOBO DESPENCA



GLOBO PERDE IBOPE
09/01/2008
Redação
O Estado de São Paulo
Acaba de ser lançado um estudo que mostra o crescimento e a perda de audiência das emissoras abertas.

Realizada pelo Ibope da Grande São Paulo, a pesquisa analisou a audiência das emissoras na faixa horária das 7 h às 24 h.

Os resultados animam a Record e a Band e são desanimadores para RedeTV!, Globo e SBT.

Segundo o levantamento, a Record foi a emissora que teve o maior crescimento de ibope em 2007: 18% em relação a 2006.

A Band também cresceu: 10%.

Já o SBT foi o que mais perdeu público: 16% de seus telespectadores migraram para outras emissoras.

E a Globo não fica atrás: sua audiência caiu 13%.

Já a RedeTV! registrou crescimento 0 em 2007.

A média de televisores ligados (share) em todas as emissoras caiu 4% em 2007. Isso indica que houve uma migração dos telespectadores para outras mídias, como a TV paga e a internet.

O crescimento da Band em audiência deve-se à volta das transmissões do futebol e ao sucesso do jornalismo da emissora. O Jornal da Band cresceu 30% em audiência e o Brasil Urgente, 23%.

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terça-feira, janeiro 08, 2008

Notável inércia intelectual


Bio-Renda e mobilização produtiva
Há algo estranho nas críticas de certa esquerda a programas como o Bolsa-Família. Além de se confundirem totalmente com os argumentos da direita, elas revelam notável inércia intelectual e parecem refletir uma posição que não pretende superar o capitalismo — mas apenas sua face atual


Giuseppe Cocco
O debate sobre o "Programa Bolsa Família" envolve problemáticas e abordagens bastante diversificadas. Porém, podemos organizá-las em dois grandes grupos, em torno de uma grande clivagem: por um lado, temos as abordagens que avaliam negativamente o Bolsa Família como sendo uma política assistencialista e até clientelística. Pelo outro, temos as análises e avaliações que assumem suas (supostas) dimensões "assistenciais" de maneira positiva. Nesse segundo caso, aceita-se a necessidade de um certo grau de assistencialismo e, além de enfatizar sua dimensão "condicional", aposta-se no fato de que seus beneficiários encontrarão uma "porta de saída" pelo melhoramento do nível de atividade econômica.
Na realidade, como tentaremos explicitar aqui, essas duas abordagens, politicamente opostas (as primeiras se inscrevendo em uma dura oposição ao governo Lula — responsável pela massificação do programa — e as segundas colocando-se no âmbito da própria política governamental) são especulares: as duas faces de uma mesma insuficiência teórica e política. Nos dois casos, continua-se a pensar que a questão fundamental é a do "desenvolvimento" e, quando se fala disso, fala-se em geral de "crescimento" e, por cima disso, de crescimento industrial. Tomamos a exemplo um dos arautos de uma crítica que pretende ser radicalmente anti-capitalista. O que ele tem a nos dizer? Que o "populismo lulista" é completamente poluído pelo "namoro firme com o Bank Boston" [1]. Mais precisamente, "como de desenvolvimento o PT nunca ouviu falar, tanto que deixou sitiarem o velho Banco do Largo da Carioca, e a macroeconomia, outra enjeitada, ficou com seus donos de sempre, sobrou para oferecer ao distinto público, como prata da casa, a figura do operador de Palácio e Congresso, mas esse, qualquer bicheiro derruba, em geral, a pedidos" [2]. Veremos que essas são posições parecidas às de determinados setores do governo, ligados aos velhos programas nacional-desenvolvimentistas.
Quer dizer, tanto os críticos ferrenhos quanto os apologéticos passam ao lado do verdadeiro debate, aquele que envolve a questão de saber quais são, no capitalismo contemporâneo, as relações entre política social e política econômica e, pois, como essas novas relações redefinem as questões da distribuição da renda e da remuneração do trabalho.
Direita e esquerda se confundem na critica do "assistencialismo"
A inadequação das críticas aparece claramente no fato de que elas não respeitam as tradicionais clivagens "direita" versus "esquerda". Pelo contrário, como ilustraremos rapidamente, os dois setores de opinião mobilizam a mesma retórica e, se não conhecêssemos os autores, poderíamos intercambiar boa parte das críticas: direita e esquerda se confundem. Trata-se de uma confusão estrutural. Nada melhor, para ilustrar esse desnorteamento das tradicionais clivagens político-ideológicas que reconstruir as posições de cada uma a partir de artigos publicados pela grande imprensa no fogo do debate eleitoral (segunda metade de 2006).
Uma das expressões mais usadas (pelas críticas de direita e de "esquerda") para apontar os problemas do "Programa Bolsa Família" (BF) é a necessidade de que haja uma "Porta de Saída". Esse é o título de um "editorial" do diário conservador Folha de S. Paulo [3]. Nesse mesmo editorial, podíamos ler que o grande problema do BF estaria no fato de que um "numero desprezível de famílias (...) se desligaram do programa (e, pois,) legítimos são os reclamos de que o desenvolvimento econômico do país deve ser capaz de estancar o número de famílias no BF e diminuir o público alvo". A preocupação é, portanto, diminuir o número dos que têm direito aos direitos, afirmando que "a meta é emancipar pela criação de postos de trabalho". A Folha de S. Paulo afirma, assim, que a questão fundamental é a do emprego que o crescimento — ou seja um outro modelo econômico — deve proporcionar. No mesmo tom se exprime o Presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo: "No aspecto econômico, salta aos olhos que a estabilidade não pode depender das mais altas taxas de juros do mundo. E no social, a transferência pura e simples de recursos (...) deve ser gradativamente substituída pela geração de emprego e renda (...)" [ 4]. É um lema recorrente. "Onde fica a saída?" é o titulo de uma coluna do ultra-conservador Merval Pereira, onde ele se pergunta: "Como as 11 milhões de famílias beneficiárias poderão independer do governo federal e passar a gerar a própria renda?" [5].
A pressão política é tão importante que o Ipea teve que realizar um estudo sobre os efeitos do BF para discutir seriamente um fenômeno que lhe estaria atrelado: o "efeito preguiça" [6]. Essa breve nota do jornal O Globo é apenas um pequeno elemento de uma campanha sistemática de todos os grandes jornais contra o BF. Essa linha de argumentação será reforçada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cujas declarações rendem manchetes do tipo: "Bispo diz que programa é assistencialista, não estimula procura por trabalho e induz à acomodação" [ 7]. Um "editorial" de O Globo retomará imediatamente essa argumentação: haveria, supostamente, um "grande risco de as doações -– leia-se Bolsa Família — perpetuarem a pobreza, por impedir, pela acomodação, a ascensão social de milhões de marginalizados" [8].
Temos aqui duas argumentações recorrentes por parte da elite conservadora, inclusive da Igreja católica: o BF seria assistencialista e criaria ,acomodação ao passo que a verdadeira solução estaria na geração de emprego, por meio de taxas de crescimento adequadas. O raciocínio é um pouco o que encontramos nessa coluna do ex-ministro das telecomunicações da era FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros: "talvez a história venha mostrar que a maior marca do Lula foi ter provocado a maior divisão da sociedade (...) o banqueiro ganha e o sujeito do Bolsa Família ganha" [9]. Uma declaração que encontra eco nas críticas do sociólogo marxista Ricardo Antunes, ex-militante do PT e fundador do PSOL: "Como entender o lulismo (...) que – ao mesmo tempo, traz regozijo aos bancos, locupleta parcelas do envelhecido 'novo sindicalismo' encastelado na máquina estatal e ainda prática um assistencialismo de arrepiar os velhos e autênticos assistencialismos?" [10].
Uma aposta, nunca autocriticada, no "colapso" do governo Lula
De maneira apenas um pouco mais sofística, encontramos a mesma crítica por parte de um outro sociólogo, ele também ex-militante do PT e fundador do PSOL, Francisco de Oliveira: "O Bolsa Família é algo que se pode entender a partir da irrelevância da política. Não adianta dizer que é assistencialista. Isso é óbvio" [11 ]. O tema da "irrelevância da política" é caro também a outro intelectual usepano. O "filósofo (que) se insurge não contra as idéias dominantes, mas contra a própria ausência de pensamento que parece contaminar nossos contemporâneos e suscitar tanto a generalização da cretinice e do oportunismo" [12] multiplicava — bem no meio da crise política de 2005 — os anúncios de morte do governo Lula e do PT. Apesar da vitalidade dos "defuntos", Paulo Arantes constatava -– em julho do mesmo ano — "o espantoso colapso do governo Lula" e, "menos surpreendente, porém não menos espetacular, a correspondente ruína moral e política do PT". Em entrevista sobre o mesmo tema, podemos ler: "(O Governo Lula) irá vegetar como o segundo mandato do FHC". Mas o futuro de Lula é pior: "Sem projeto próprio, salvo o de ingressar no condomínio patrimonialista brasileiro, não será expulso (...), apenas reciclado como sócio menor" [13]. Pouco tempo depois, mesmo insistindo na mesma previsão errada, o filósofo "às voltas com (o) grave problema, coletivo e mental, de extinção da inteligência" [14] é obrigado a matizar sua sentença. Por um lado, "dizer que o governo Lula acabou não deixa de ser um exagero piedoso, pois supõe que em algum momento ele tenha começado" [15]. Pelo outro, já está claro que a multidão é surda — ao mesmo tempo — aos moralismos da elite bem como aos do suposto pensamento crítico: "(...), o terremoto político da hora não se propaga, pelo menos não afeta o consenso básico(...)". Aí vem a dúvida, de rara perspicácia: "(...) e se o novo Pai dos Pobres voltasse a ter a benção eleitoral de sua vastíssima clientela de bolsistas e consumidores de esperanças em lata (...)?" [ 16]. Curiosamente, os ditos "bolsistas" são tratados com a mesma disposição anti-popular que manifestava um José Veríssimo quando, diante do desafio da modernização da América Latina, exclamava: "Quem pode de boa-fé crer que nesta gente, que forma a enorme porcentagem da população dos países latino-americanos, possa haver uma 'opinião' ".
A distribuição de renda e de vagas de acesso ao ensino superior é, pois, considerada como sendo clientelista, mais baixo populismo, algo que de toda maneira diz respeito à "irrelevância da política hoje (...): o assim chamado governo Lula limitou-se a carimbar pacotes que lhe eram sucessivamente apresentados com o automatismo de uma linha de montagem. Mas para isso não era necessário alugar parlamentares. Aqui o negócio é outro. Trata-se da gestão do poder que veio ocupar o vazio deixado pelo fim da política" [17]. Voltaremos, mais adiante, sobre esse conceito de "irrelevância da política". Por enquanto, continuamos nessa breve reconstituição de um discurso que atravessa as críticas conservadoras e as que, supostamente, deveriam indicar um caminho crítico, de "esquerda". Encontramos as mesmas argumentações no ultra-liberal Merval Pereira e na linha editorial ultra-conservadora de seu jornal, O Globo: "(...) ficou claro que o Bolsa Família precisa ser reestruturado para ganhar uma dimensão social mais efetiva, perdendo seu caráter assistencialista" [18]. Como já apontamos, trata-se de uma "tecla" que é pisada sistematicamente, mesmo para falar da posse do Presidente Lula para o segundo mandato: "Lula usa posse para exibir assistencialismo" é a manchete da Folha de S. Paulo [19].
É o mesmo tom de uma das dezenas de colunas escritas por Jânio de Freitas na FSP: "Faltou tudo. Lula não tem idéia do que fazer, apenas sente que seu governo foi e é economicamente vergonhoso" [20]. "Lula tratou rico e pobre com igual carinho", insiste um outro colunista [ 21]. "Um país que não cresce acaba não distribuindo renda, mas equalizando a pobreza. (...) A falta de desenvolvimento pune os mais necessitados; torna-os clientela cativa do assistencialismo. (...) a emancipação verdadeira, sair da pobreza, exige empregos e renda para as famílias" [22]. Trata-se de trechos do discurso de posse do governador (PSDB) de São Paulo, José Serra. Claro, a elite conservadora enxerga os investimentos sociais como sendo "gastos estéreis" [23 ]. A manchete de O Globo sobre o mesmo aumento do salário mínimo decretado pelo re-eleito Presidente Lula é de uma violência fora do comum: "Bondade com o mínimo reduz alcance de pacote" [24]. Ou seja, elevar o mínimo para R$ 380,00 mensais é uma "bondade" e teria, ao mesmo tempo, impacto negativo sobre o "pacote" destinado ao crescimento da economia.
Belluzzo, ao final, reconhece mobilização democrática inovadora
Se a suposta esquerda radical não hesita em usar as mesmas argumentações que os setores mais conservadores da elite neoescravagista, isso não significa que os outros setores da esquerda, inclusive os que estão no governo, não tenham críticas ao Bolsa Família. Em entrevista [25] concedida ao ex-ministro da Casa Civil (José Dirceu), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Centro de Estudos Celso Furtado criticava de maneira contundente a política econômica do primeiro governo Lula, sem com isso criticar o próprio governo: "a política monetária está lutando a guerra anterior", pois se a questão da inflação deve ser enxergada como uma "luta permanente", não devemos perder de vista que "a memória da inflação destrutiva levou ao pânico da deflação desagregadora. (Assim), a economia cresceu pouco". Belluzzo afirma que o crescimento "pífio " da economia cria um problema político, pois é "muito difícil conseguir o consenso na derrota.(...) Se — ao contrário — a economia começar a retomar e espalhar os efeitos dessa retomada na população, vamos criar as condições de sucesso que permitem construir o consenso".
A inércia ideológica é impressionante. Belluzzo fala da falta de consenso em razão da falta de crescimento e, ao mesmo tempo, ele mesmo afirma: "Hoje, o que está segurando o apoio ao governo (Lula) é a política social. (...) Está se consolidando um tipo de voto que tem, como critério, a posição social dos indivíduos". Belluzzo admite, pois, que a política social apresenta elementos de mobilização democrática particularmente inovadores: "Esse é um dos ganhos dos últimos anos, particularmente das eleições do Lula, a despeito de minhas divergências".
As análises mais interessantes do Bolsa-Família são produzidas pelos seus idealizadores, ou seja, por pesquisadores orientados por um tipo de pensamento que poderíamos qualificar de social-liberal, economistas influenciados pelos trabalhos de Amartya Sen e, em alguns casos, pelas propostas em termos de Basic Income nos moldes elaborados pelo filósofo belga Van Parjis. O viés "liberal" dessas abordagens está, obviamente, no fato de elas colocarem ênfase — correta — na questão da luta contra desigualdade para reforçar a crítica às políticas públicas de cunho universalista. O problema dessas seria que (exatamente em função da estrutura extremamente desigual da distribuição da renda) os recursos não chegam até os mais pobres, devendo, portanto, ser distribuídos a partir de políticas focadas. O próprio Bolsa Família é oriundo desse nova geração de políticas sociais focadas e hiper-fragmentadas desenvolvidas durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Elas associavam o objetivo de alcançar as camadas mais pobres (mais vulneráveis) da população e um leque extremamente diversificado de programas: Auxílio Gás, Bolsa Alimentação, Plano de Erradicação do Trabalho Infantil e o próprio Bolsa Família. Com a desculpa de alcançar os mais necessitados, a política social de cunho neoliberal organiza-se em torno de um infinidade de fragmentos e, com ela, é o conjunto dos "direitos" sociais que é objeto de sistemática fragmentação.
Ao unificar programas, Bolsa-Família ultrapassa fragmentação neoliberal
O que o governo Lula fez foi reagrupar o conjunto desses programas em um somente: o Bolsa Família, que foi, ao mesmo tempo, massificado, ampliando-se sistematicamente o público alcançado. O pesquisador Ricardo Paes de Barros, do IPEA, dirigiu um detalhado estudo sobre os impactos e os determinantes da queda da desigualdade no Brasil desse início de século [26]. As conclusões são fortes e parecem extremamente adequadas: em primeiro lugar, elas mensuram o fenômeno de queda da desigualdade; em seguida, indicam empiricamente os determinantes e, enfim, avaliam os impactos. A adequação é evidente: por um lado, os dados empíricos sobre distribuição da renda desmentem as afirmações ideológicas da direita conservadora e da suposta esquerda radical. Pelo outro, os impactos e as percepções sociais dessas mudanças coincidem coerentemente com a manutenção da popularidade do presidente Lula, apesar de mais de um ano de massacre por parte de toda a grande mídia do país. A mudança de composição da base eleitoral do Presidente, no sentido de um maior peso das camadas sociais mais desfavorecidas (mudança que, como sabemos, envolve, também, as articulações regionais da desigualdade) é um potente resultado disso.
Como dissemos, os pesquisadores do Ipea, quantificam o fenômeno: "existem evidências de que a desigualdade de renda continuou caindo ao longo de 2005 e a expectativa é que possamos ter pela frente uma quebra recorde em termos de redução da desigualdade". Em seguida, desmentem as afirmações ideológicas de um Mendonça de Barros ou de um Ricardo Antunes: "A renda média dos pobres aumenta proporcionalmente mais do que a dos ricos". Enfim, traduzem esses dois elementos em termos que explicam a popularidade do governo Lula: "A queda da desigualdade (...) é suficiente para que os mais pobres percebam um nível de desenvolvimento no país e um aquecimento da economia que outros grupos de renda não estão percebendo". Mas não se trata somente disso: analisando o comportamento da curva de redução da desigualdade no ano de 2004 — ou seja no período em que o PIB conheceu a maior taxa de crescimento —, o estudo observa que "75% do aumento da renda dos 20% mais pobres resultou da diminuição do grau de desigualdade" e conclui polemicamente: "O tão celebrado crescimento econômico (de 2004) foi responsável por menos de 1/3 da queda observada na extrema pobreza e, portanto, para os pobres, a redução no grau de desigualdade foi três vezes mais importante do que o crescimento econômico".
Mais uma vez, de maneira contundente, chegamos à constatação de que o verdadeiro fato novo do primeiro mandato do Presidente Lula foi sua política social e de como, ao longo desse mandato, pela amplificação da distribuição de renda-não-derivada do trabalho chegou-se à maior redução da desigualdade das últimas décadas e à construção de um nova base social do próprio governo Lula.
Quando velhas categorias já não explicam um mundo que mudou
Como acabamos de ver, as análises das políticas sociais e, mais em geral, das relações entre distribuição de renda e crescimento econômico acabam misturando entre elas as tradicionais clivagens teórico-políticas. A decepção de determinados setores de "esquerda" — muitos deles oriundos do próprio PT — que avaliaram a política econômica do primeiro governo Lula como uma traição acaba coincidindo com o cinismo da oligarquia mais conservadora que — não satisfeita pelo conjunto de constrangimentos com os quais o governo Lula teve que compor — sabota sistematicamente qualquer tipo de avanço reformista, por tímido que ele seja. Ao mesmo tempo, os setores moderados (digamos que exprimem um consenso reformista de "centro") também invertem suas posições e seus papeis: os desenvolvimentistas criticando o governo Lula de dentro, ao passo que os social-liberais o elogiam de fora.
Os impasses nos quais acaba o debate e a crítica — ou seja, essa mistura de posições de direita e de esquerda diante dos enigmas da política econômica e da política social — derivam do fato que continuam sendo usadas categorias de análise inerciais, derivadas de uma época ultrapassada. Ou seja, de maneira geral, aplica-se ao contexto atual, categorias próprias do capitalismo industrial. O crescimento econômico continua sendo, pois, o horizonte irrenunciável das políticas sociais de integração por meio da dinâmica do emprego. Um nível de emprego que deveria chegar a ser "pleno" com base no retorno de um intervencionismo estatal de tipo keynesiano. Fala-se de "socialismo", inclusive de "socialismo do século 21", mas pensa-se o keynesianismo, no horizonte de um nacionalismo que, nas situações de "atraso" econômico seria justificado como algo que corresponderia à luta contra a desigualdade social: "(...) o nacionalismo é fundamentalmente a conseqüência da tensão gerada pelo desenvolvimento desigual numa economia mundial unificada, como resposta política a uma situação de 'atraso' que se tornou tão inaceitável quanto a desigualdade social". Nessa perspectiva, continua-se a pensar que é o nacionalismo que faz nascer as nações: nações keynesianas [ 27].
Ora, se por uma lado, não sabemos o que possa vir a ser o dito socialismo do século 21, pelo outro não temos dificuldades para saber que o keynesianismo não é mais viável. Não é mais viável porque não existem mais as forças sociais e econômicas que o sustentaram em sua trajetória hegemônica (aquela norte-americana, conhecida também como "americanismo" ou "fordismo"). Aliás, fora dessa determinação específica — aquela do New Deal roosveltiano — o keynesianismo não contem, na sua qualidade de receituário para a intervenção econômica do Estado, nenhum elemento intrinsecamente progressista. Como todo o mundo sabe, o intervencionismo estatal tornou-se geral na década de 1930: desde a Alemanha nazista até a Rússia stalinista e os Estados Unidos de Roosvelt, passando pela Itália mussoliana, o Brasil varguista e o Japão imperial [ 28].
O fato é que, hoje em dia, não há mais a classe operária de fábrica e o grande capital industrial (monopolista) que qualificaram o keynesianismo norte-americano (e, no limite, a própria experiência soviética, antes que ela virasse o pesadelo stalinista da industrialização forçada). Ou seja, não há aquele conflito central entre capital e trabalho, cuja mediação dinâmica proporcionava as bases de legitimação social e econômica de um regime de produção — industrial — em massa, destinada a um consumo também massificado, dentro de economias domésticas relativamente fechadas.
Mas não se trata só disso. Às vezes, mesmo a mudança de léxico e de referencial teórico leva a abordagens inadequadas. Encontramos um exemplo disso — ou seja a reprodução teórica do impasse político — no discurso da "irrelevância da política". Esta inadequação está, no fundo, em uma desilusão apenas parcial ou tardia. "Por maior que fosse a desfiguração galopante que havia tempo acometia o seu (de Lula) partido, não se pode dizer em absoluto que o neoliberalismo lhe fosse congênito, daí a sensação de deslavado oportunismo que cercou sua abrupta conversão à ortodoxia econômica" [29]. O próprio Paulo Arantes explicita: "Havia uma certa ilusão jacobina" [ 30].
Por sua vez, na mesma entrevista citada acima, Francisco de Oliveira afirma que o Bolsa Família, bem como as políticas de cotas (que o governo queria implementar) são criações foucaultianas, ou seja instrumentos de controle. O Bolsa Família, afirma Oliveira, "(...) da mesma forma que as cotas, que as ações afirmativas, é um dispositivo foucaultiano, uma clara regressão". Em que sentido "foucaultiano" ? Ele mesmo explica: trata-se de uma "antipolítica na forma de uma política. É uma biopolítica" [31].
Como se o poder fosse onipresente e as lutas nada mudassem
Estamos no meio de um paradoxo curioso, que poderíamos enunciar da maneira seguinte: do mesmo jeito que essa sociologia descobriu o keynesianismo e a mecânica de "fundo público" quando suas bases disciplinares já tinham sido varridas pelas lutas operárias e estudantis dos anos 1970, ela hoje apreende as novas tecnologias de poder apenas a partir do ... poder e de seu determinismo. Estamos sempre dentro das determinações do poder, nunca das rupturas impostas pelas lutas. O discurso político mais radical e, como veremos, até niilista, acaba pregando na realidade — mesmo que na forma de um saudosismo impotente — uma curiosa forma de emancipação que passaria pela subordinação: o pleno emprego industrial. Isso porque acredita-se que "no auge do fordismo" tinha se chegado a uma "desmercantilização crescente do contrato de compra e venda da força de trabalho" e o problema estaria no fato de os "capitalistas (terem) virado a mesa (e inventado) o desemprego estrutural e sua legião de supostos excluídos" [ 32].
Vagamente influenciada pelo niilismo da leitura agambeniana de Foucault, essa sociologia uspeana assume a biopolítica como uma regressão da política [33]. Nos termos do Paulo Arantes, a crise da esquerda é o fato de sua renuncia à política. "Quando a esquerda não tem mais interlocutor social, vem a calhar a demonstração científica de que ele não existe mais". Seria o esquecimento da política — o fato de não ter mais um referencial de classe — a solapar uma esquerda alucinada pelas "grandes fantasmagorias do nosso tempo", sendo que, dentre delas, a mais importante miragem é a do "capitalismo informacional" [34].
Trata-se, de toda maneira, de um uso bem paradoxal não de Foucault mas, como dissemos, da interpretação sui generis veiculada por Giorgio Agamben [ 35]. Acatando o niilismo de Agamben, Arantes e Oliveira assumem a biopolítica como algo que seria sempre o produto de dispositivos de controle, mas isso em uma perspectiva que — direta ou indiretamente — assume o Arbeit Macht Frei e sua sociedade disciplinar como um horizonte de emancipação.
Segundo Laymert Garcia, Paulo Arantes está "mais preocupado em detectar o estado de sitio contemporâneo como expressão da redefinição das relações centro-periferia", ao passo que para Agamben o que importaria seria "interrogar o estatuto ontológico dessa violência em sua relação como direito" [36]. Com efeito, não há, nas reflexões de Agamben, nenhum espaço para uma análise das dinâmicas sócio-econômicas. Para ele, como veremos, a questão fundamental, se encontra na "decisão soberana": é ela que funda a exceção permanente. Bem que compartilhe essa visão niilista e catastrofista, Arantes vê — sempre na apresentação de Laymert — a decisão soberana como "efeito colateral, porém imprescindível, de uma regra enunciada não em termos despóticos, e sim puramente capitalistas" [37]. O catastrofismo filosófico de Agamben é, pois, mobilizado no âmbito do marxismo terceiro-mundista e assim mantido no âmbito de um rígido determinismo do capital: "(...) à pergunta 'quem decide quando e onde vale a regra ou a exceção', deveríamos responder: o movimento de realização do capital" [38]. Um determinismo que, na passagem da modernidade para a pós-modernidade, chega a seu auge, pois o capital teria se emancipado das limitações que o "trabalho" conseguia lhe impor — embora apenas de maneira ilusória — por meio de um "vinculo jacobino": "como todas as igualdades deviam aparecer necessariamente, pelo prisma do critério burguês máximo, como uma injustiça inaceitável, também era inegável a matriz política do dano a ser reparado, bem como plausível enxergar, nos mesmos termos políticos, a exploração econômica como uma desigualdade a mais e igualmente intolerável, demandando em conseqüência a compensação de uma 'salário justo', ficando em segundo plano a abolição da relação mesma de sujeição pelo assalariamento" [39]. Por conseqüência, "a decomposição da sociedade salarial (tem decretado) o fim da política" [ 40].
Ler Foucault por meio de um ponto de vista niilista e parcial
Evidentemente, o uso de Agamben é bem paradoxal. Estamos ainda numa perspectiva desenvolvimentista, interna a um marxismo profundamente marcado por uma visão progressiva do capital. Nas palavras de Roberto Schwarz: "No campo dos trabalhadores, a nova correlação de forças leva ao desmanche dos direitos conquistados ao longo da quadra anterior. A extração de mais-valia encontra menos resistência e o capital perde o efeito civilizador que pudesse ter [ 41]. O chão de fabrica continua sendo uma referencia saudosista: "A tendência vai para a informalização do trabalho, para a substituição do emprego pela ocupação, ou, ainda, para a desconstrução da relação salarial" [42].
Como dissemos, essas "críticas de esquerda" ao programa Bolsa Família e mais em geral ao governo Lula mobilizam uma leitura da biopolítica em termos de "indiferença da política" que, apesar de atribuída a Michel Foucault, deve-se a uma de suas leituras mais problemáticas e distantes do filósofo francês: a proposta pelo italiano Giorgio Agamben.
Trata-se de uma apropriação bem particular, pois esses teóricos se mantêm em uma perspectiva industrialista (ou fordista) completamente estranha às preocupações de Agamben. Enredados no debate sobre o sub-desenvolvimento, eles não param de multiplicar os paradoxos políticos de suas análises: parecem anti-capitalistas e na realidade multiplicam as denuncias morais de um capitalismo que não cresce mais como seria necessário, pois "o ornitorrinco capitalista é uma acumulação truncada e uma sociedade desigualitária sem remissão" [ 43]. Ou seja, o problema parece ser a forma contemporânea do capitalismo (e não o capitalismo em geral), pois essa se caracterizaria "apenas pelas 'acumulações primitivas', tais como as privatizações propiciaram". Algo que tem a ver com um capitalismo que não é mais produtivo: "(...) agora com o domínio do capital financeiro, elas são apenas transferências de patrimônio, não são mais, propriamente falando, 'acumulação' " [44].
[1] Paulo Arantes, ibid., p. 227.
[2] Ibid., p. 228. Paulo Arantes está falando da crise política de 2005 e da conseqüente "queda" do então Ministro da Casa Civil, José Dirceu.
[3] Em 18 de julho de 1006.
[4] Abram Szajman, "Lei Natural impõe Reformas", in diário Folha de S. Paulo , 2 de Janeiro de 2007.
[5] Diário O Globo, 5 de Janeiro de 2007.
[6] Em O Globo On Line, 16 de agosto de 2006.
[7] Jornal O Globo, "CNBB: Bolsa Família vicia", 18 de novembro de 2006, p. 3.
[8] "Tema em discussão: Bolsa Família, Nossa opinião", O Globo, 4 de dezembro de 2006.
[9] Folha de S. Paulo, 14 de agosto de 2006.
[10] Jornal Folha de S. Paulo, 17 de agosto de 2008.
[11] Jornal Folha de S. Paulo, 24 de julho de 2006.
[12] "A Crise: Perguntas e Respostas no calor da hora", entrevista concedida a Mundo, em agosto de 2005, republicada em Paulo Arantes, Extinção, Cit., p. 255.
[13] Laymert Garcia dos Santos, ibid. , p. 8.
[14] "O governo Lula acabou?" resposta a entrevista da Revista Caros Amigos , n.102, setembro de 2005, republicada em P. Arantes, Extinção, Cit., p. 253.
[15] Ibid., p. 254.
[16] Apud Salete de Almeida Cara, "Esqueletos vivos e argumentos indecorosos", in Benjanin Abdala Jr e Salete de Almeida Cara (orgs.), Modernos de Nascença: Figurações Críticas do Brasil, Boitempo, São Paulo, 2006, p. 63.
[17] Ibid., p. 253
[18] O Globo, cit.
[19] Em 5 de dezembro de 2006.
[20] 22 de novembro de 2006.
[21] Marcelo Coelho, "Continuísmo superou o medo e a esperança", FSP, 29 de dezembro de 2006.
[22] O Globo, 2 de Janeiro de 2007.
[23] "Mínimo Irracional", editorial da Folha de S. Paulo, 22 de dezembro de 2006.
[24] 27 de dezembro de 2006.
[25] Publicada no Blog do Zé Dirceu, 6 de agosto de 2006.
[26] Ricardo Paes de Barros, Mirela de Carvalho , Samuel Franco, Rosane Mendonça, Consequências e Causas imediatas da Queda Recente da Desigualdade de Renda brasileira, Texto para Discussão n. 1201, Ipea, Rio de Janeiro, julho de 2006.
[27] Paulo Arantes, "Nação e Reflexão", in Benjamin Abdala Jr e Salete de Almeida Cara, Cit., p. 28.
[28] Para essa discussão, permito-me de sugerir a leitura de Giuseppe Cocco, Trabalho e Cidadania, Cortez, São Paulo, 2000.
[29] Paulo Arantes, Cit. , p. 255.
[30] "Qual política?", Entrevista concedida ao Cepat Informa, em agosto de 2006, reproduzida em Extinção, Cit., p. 288.
[31] Francisco de Oliveira, Cit.
[32] Paulo Arantes, "O que é ser de esquerda", Caros Amigos, ano XI, no 121, São Paulo, Casa das Palavras, Abril de 2007, p. 28.
[33] Estamos falando dos trabalhos do filósofo italiano Giorgio Agamben, sobre os quais voltaremos.
[34] Paulo Arantes, ibid.
[35] E que evetualmente encontramos, de maneira ainda mais distante do próprio Foucault, nos livros de Esposito
[36] Cit., p. 13
[37] Ibid., pp. 16-7.
[38] Ibid.
[39] Paulo Arantes, Extinção, Cit., p. 288.
[40] Ibid.
[41] "Prefácio com Perguntas", in Francisco de Oliveira, Cit., p. 13.
[42] Ibid.
[43] Francisco de Oliveira, Ornitorrinco, Cit. p. 150.
[44] Ibid.




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